Por Brasil de Fato
A atual líder da extrema direita venezuelana, María Corina Machado venceu o Prêmio Nobel da Paz de 2025. O anúncio foi feito da manhã desta sexta-feira (10) e surpreendeu o mundo político da Venezuela e da América Latina. Isso porque a ex-deputada tem um longo currículo de apoio a golpes de Estado, sanções econômicas e até pedidos de intervenção armada contra o país.
Oriunda de família rica, Machado apoiou o golpe de Estado relâmpago que derrubou o então presidente Hugo Chávez por 48 horas em abril de 2002. Durante aqueles dois dias, ela foi uma das 300 pessoas que assinou o documento antidemocrático conhecido como Decreto Carmona, em referência ao empresário golpista que se autoproclamou presidente.
O documento determinava o fechamento do Congresso, a destituição da Suprema Corte e a suspensão de garantias legais para a população, que não aceitou o golpe e apoiou o retorno de Chávez ao cargo.
Após a derrota do golpe, dois anos depois, Corina Machado buscou apoio internacional para sua ONG, a Súmate. Em 2005, visitou a Casa Branca e se reuniu com o então presidente dos EUA George W. Bush. O encontro gerou repúdio por parte de Caracas, que alegou que, naquele momento, nem o embaixador venezuelano em Washington conseguia uma reunião com o republicano.
A tentiva de mudar o governo à força havia sido apoiada pelo governo de George W. Bush, que reconheceu o golpista Carmona. Dinheiro dos EUA continuou a financiar a Súmate, que foi investigada pelo governo venezuelano.
Em 2005, Machado foi recebida pelo então presidente dos EUA George W. Bush
Em 2010, Machado foi eleita como deputada pelo Estado de Miranda, mas não chegou a terminar o mandato pois foi cassada em 2014, após aceitar um cargo de embaixadora do Panamá na OEA (Organização dos Estados Americanos), violando o artigo 149 da Constituição venezuelana que impede funcionários públicos de aceitar cargos de governos estrangeiros sem a autorização do Parlamento. Segundo ela, o posto oferecido pelo governo panamenho serviria para “denunciar a violência cometida” pelo presidente Nicolás Maduro.
A violência mencionada por Machado se refere às ações policiais contra protestos violentos da oposição, conhecidos como “guarimbas”, desencadeados pelas declarações do canditado derrotado Henrique Capriles em 2013, que não reconheceu a vitória presidencial de Maduro e convocou a população a protestar.
Os protestos ganharam amplitude e foram marcados pela violência dos manifestantes, que incendiaram prédios públicos, atacaram sedes de partidos de esquerda e agrediram trabalhadores. Capriles tentou se distanciar dos distúrbios, abrindo espaço para outros líderes da oposição, incluindo Maria Corina Machado.
As “guarimbas” voltaram a ocorrer três anos mais tarde, em 2017. Os protestos daquele ano, no entanto, duraram mais tempo e se mostraram ainda mais violentos que os de 2014. Segundo a versão do governo, ao menos seis pessoas foram mortas e 23 foram atacadas durante os atos por serem simpatizantes ou apoiadores do chavismo.
‘Governo’ Guaidó e bloqueio
Em 2019, a oposição venezuelana liderada por Corina apoiou a autoproclamação de Juan Guaidó como “presidente interino” do país, seguindo a estratégia de “pressão máxima” do primeiro mandato do presidente dos EUA Donald Trump.
As sanções dos EUA contra a indústria petroleira visavam criar caos econômico e político para forçar a saída de Maduro. Maria Corina Machado apoiou Guaidó durante todo o “interinato” e passou a defender abertamente uma “intervenção militar estrangeira” na Venezuela.
A estratégia defendida por Corina é similar a adotada pela família Bolsonaro, que por meio de Eduardo Bolsonaro influencia a Casa Branca a lançar ataques comerciais contra o Brasil.
“Se a ameaça não for real, o regime não vai ceder”, disse Machado à BBC em 2019. No ano seguinte, em 2020, em uma entrevista à agência alemã Deutsche Welle, a ex-deputada chegou a pedir uma “intervenção militar cirúrgica, que retire Maduro do poder”.
A surpresa causada pela escolha da venezuelana lembra a da União Europeia (UE) em 2012. No ano anterior o bloco havia liderado as forças que derrubaram o governno líbio e mergulhado o país no caos. A UE então passou a endurecer os mecanismos anti-imigratórios para impedir a chegada do mar de refugiados líbios que ajudou a criar.
Presidência e apoio a militares dos EUA
Em 2024, Machado tntou concretizar um sonho antigo: ser candidata à Presidência. Mesmo inelegível desde 2014, a ex-deputada forçou sua candidatura até o último momento possível, para então indicar Edmundo González Urrutia, um político desconhecido, como seu representante no pleito.
A chapa foi derrotada pelo atual presidente Nicolás Maduro, mas alegou fraude eleitoral e foi convocada pela Suprema Corte a apresentar provas em um processo que envolveu todos os candidatos à Presidência daquela eleição. No entanto, nem Machado e nem González compareceram ao tribunal durante o processo.
A opositora segue dando entrevistas pedindo a derrubada de Maduro e chegou a apoiar as recentes mobilizações de tropas estadunidenses no mar Caribe e os ataques a embarcações supostamente vinculadas ao narcotráfico que o governo Donald Trump vem realizando.
“Não resta outra opção a não ser forçar a saída de tal regime”, disse Machado durante uma vídeoconferência na Assembleia das Nações Unidas realizada em setembro.