Os Meta Ray-Ban Display chegam ao mercado por US$ 799 e Mark Zuckerberg, fundador da empresa, diz que esse tipo de equipamento nos ajudará a ficar menos tempo olhando para o celular e assim criar mais conexão com o mundo real. É uma meia verdade, porque só vamos substituir uma tela por outra.
O dispositivo impressiona tecnicamente. Com controle neural via pulseira que lê sinais elétricos do pulso, é possível navegar por menus, responder mensagens e até escrever no ar apenas com gestos discretos. Uma tela acoplada a lente do olho direito exibe mapas, traduções ao vivo e permite videochamadas em primeira pessoa.
A novidade vem acompanhada de câmeras que gravam tudo, microfones que captam conversas e uma tela que projeta informações diretamente no seu campo de visão. Os novos óculos da Meta podem ajudar a criar um grande sistema de vigilância disfarçado de produto. Estamos normalizando a gravação constante de tudo ao nosso redor sob o pretexto de conveniência.
Enquanto a Meta lança óculos que gravam tudo, o Reino Unido expande sistemas de reconhecimento facial que já resultaram em mais de mil detenções desde janeiro. Polícias britânicas planejam integrar essa tecnologia aos celulares de agentes e instalar câmeras fixas pela cidade. É a vigilância se tornando onipresente, alimentada por dispositivos vendidos como inovação.
Dados pessoais são o principal combustível para o modelo de negócios da Meta. A empresa que lucra bilhões vendendo nossa atenção para anunciantes agora quer equipar milhões de pessoas com dispositivos capazes de capturar áudio e vídeo em tempo real. Com 2 milhões de unidades da primeira geração já vendidas, a escalada parece inevitável.
Isso sem falar no efeito nas interações do dia a dia. Diferente do celular, em que é fácil identificar quando alguém está usando, estes óculos tornam nossa atenção e intenção em algo ambíguo. Quando alguém usar óculos inteligentes durante uma conversa ao vivo, não vai dar pra saber se a pessoa está prestando atenção ou checando mensagens.
A promessa tentadora de finalmente nos livrar da tirania das telas de celular pode simplesmente entregar uma tela ainda mais colada na sua cara. A verdadeira revolução pode não estar na tecnologia que usamos e sim em decidir quando não queremos usá-la.