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Tumor maligno mais incidente no Brasil – o de pele não melanoma

por Gabriel Anjos
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Por Gustavo Cabral*

O câncer é um dos temas mais relevantes na área da saúde pública, e discutir esse assunto torna-se cada vez mais essencial diante do aumento da incidência e do impacto social e econômico que a doença provoca. Diversos fatores contribuem para essa importância, entre eles o envelhecimento populacional, o aumento da exposição a fatores de risco (como tabagismo, consumo excessivo de álcool, alimentação inadequada e exposição solar sem proteção), além das desigualdades no acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado.

De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), os tipos de tumores mais incidentes são: câncer de pele não melanoma (31,3% do total de casos), seguido pelos tumores de mama feminina (10,5%), próstata (10,2%), cólon e reto (6,5%), pulmão (4,6%) e estômago (3,1%), entre outros.

Compreender o panorama da doença é fundamental para promover políticas públicas mais eficazes, fortalecer as ações de prevenção e ampliar o acesso a diagnósticos precoces — fatores que aumentam significativamente as chances de cura e reduzem a mortalidade.

Tumor maligno mais incidente no Brasil – o de pele não melanoma

Para aprofundar o debate sobre os principais tipos de câncer, é importante ouvir especialistas de diferentes áreas. Para falar especificamente sobre o câncer de pele não melanoma, conversei com o Dr. Robinson J. Kaczmarck, Médico dermatologista pela UFFS, Membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Membro do corpo clínico na Cadore Clínica Dermatológica em Florianópolis (SC), com atuação focada em cirurgia dermatológica & lasers.

1. Dr. Robinson, segundo dados do INCA, o câncer de pele não melanoma é o mais comum no Brasil, representando cerca de 31,3% de todos os casos de câncer – quase um terço do total, o que é bastante expressivo. Para começarmos, poderia nos explicar o que caracteriza esse tipo de câncer? Quais são suas particularidades em relação a outros tumores de pele e demais tipos de câncer?

Dr. Robinson: A diferenciação que adotamos para falar dos tipos de câncer de pele facilita o entendimento da natureza dos tumores. Os cânceres de pele ‘’não melanoma’’ se originam de células mais superficiais, são estes os mais comuns em ocorrência e costumam ser menos agressivos se detectados e tratados precocemente. Já os tumores de pele do tipo ‘’melanoma” são menos frequentes – mas não raros -, originam-se das células que produzem a melanina (os melanócitos) e são mais agressivos e muitas vezes letais devido às altas chances de fazerem metástases (nome dado ao processo em que células cancerígenas se espalham do local onde o tumor começou para outras partes do corpo), acometendo outros órgãos.

2. Na sua opinião, quais fatores – tanto biológicos quanto sociais — contribuem para que o câncer de pele não melanoma atinja essa alta incidência no Brasil?

Dr. Robinson: Se levarmos em conta que além da genética alguns fatores externos aumentam as chances do surgimento do câncer de pele não melanoma, fica fácil compreendermos suas altas taxas de incidência no Brasil. Em nosso país, muitas famílias dependem da agricultura, da pesca e de outras profissões em que o trabalhador fica diretamente exposto ao sol, geralmente com pouco ou nenhum conhecimento a respeito da importância de proteger sua pele da radiação – desinformação. Na cidade, a busca pelo corpo bronzeado é incessante e quando não ocorre através do sol, o bronzeamento muitas vezes é feito em camas/cabines de bronzeamento artificial oferecidas ilegalmente em clínicas estéticas. Além disso, aqui os protetores solares são regulamentados como cosméticos e produtos de higiene pessoal, o que eleva sua carga tributária e consequentemente o seu preço final, tornando-os menos acessíveis para muitas famílias.

3. Como você avalia, atualmente, o diagnóstico e o tratamento do câncer de pele não melanoma? E quais são suas perspectivas para os próximos anos, especialmente no que diz respeito à prevenção, ao diagnóstico precoce e aos avanços terapêuticos?

Dr. Robinson: Atualmente o câncer de pele não melanoma é tratado com cirurgia na grande maioria dos casos, salvo em lesões muito superficiais detectadas precocemente. Felizmente as taxas de sucesso são maiores pois estamos falando de lesões que ocorrem na pele (portanto visíveis) e que levam o paciente a buscar o médico precocemente. Por isso, além da informação sobre fotoproteção e identificação de lesões suspeitas, o fácil acesso ao atendimento médico é fundamental para que haja maior chance de cura.

Nos últimos anos vimos crescer a desinformação sobre protetores solares, especialmente em redes sociais. Acho que este fenômeno tem sido um novo desafio quando falamos de prevenção: combater o charlatanismo de influenciadores antiéticos, com total desconhecimento técnico e completamente indiferentes às tristes consequências das mentiras que propagam.

Em setembro deste ano participei de uma conferência em Harvard com o Dr. Richard Rox Anderson, ilustre dermatologista responsável por históricos avanços nos tratamentos a laser na medicina em geral, e fui surpreendido pelas novidades. Ele e suas equipes já estão obtendo sucesso em pesquisas que empregam lasers para o tratamento de carcinomas basocelulares, o que dispensaria a necessidade de cirurgia em boa parte dos casos, que poderiam ser tratados de forma mais rápida e com menor tempo de recuperação para o paciente.

4. Por fim, gostaria de deixar alguma mensagem, reflexão ou informação importante que não tenha sido abordada nas perguntas anteriores?

Dr. Robinson: Eu digo para todos os meus pacientes e sempre repito em qualquer oportunidade: invista em protetor solar; use-o diariamente e reaplique ao longo do dia. Não há, até agora, nenhum cosmético, nenhum procedimento ou passo de skincare que faça pela sua pele o que ele faz: desacelera o envelhecimento cutâneo, uniformiza o tom da pele, trata manchas, previne rugas e reduz – e muito! – a incidência de câncer de pele.

Procure seu dermatologista se notar feridas que não cicatrizam, ‘’pintas” novas ou que se modificaram ao longo do tempo, ou se tiver qualquer dúvida a respeito de alguma lesão de pele. Diagnóstico precoce e tratamento correto são a chave para a cura dos tumores de pele.

*Prof Dr Gustavo Cabral é Imunologista PhD pela USP, Pós-Doutor pela Universidade de Oxford, Inglaterra e Pós-Doutor Sênior pelo Hospital Universitário de Bern, Suíça. 

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