O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), capitão do Exército como o seu criador Bolsonaro, era conhecido pela habilidade em ficar camuflado na moita política e aproveitar a superproteção da imprensa para transferir serviços e patrimônios públicos a empresas de apoiadores e fundos financeiros montados na Faria Lima.
Assim entregou a Sabesp, a companhia de água e saneamento de São Paulo, e terceirizou importantes ações da secretaria de Educação e de Transportes, para ficar apenas em duas das mais importantes máquina estadual.
Desde que resolveu comandar a campanha pela anistia do ex-presidente, o até então discreto político se meteu em enrascadas dignas do bolsonarismo mais tosco e vulgar.
Somente na última semana, revelou-se líder da proteção e escudo humano do Tigrinho das Bets, das fintechs e dos bilionários. Tudo para que essa turma de privilegiados fique livre de pagar impostos que buscam uma mínima ideia de justiça tributária. Tentou a operação na moita de sempre, porém foi desmascarado pelos próprios líderes dos reaças no Congresso.
A desculpa de Tarcísio foi a de que o brasileiro não aguenta mais pagar tributos. Logo o governador que buscou taxar até as gorjetas dos garçons de bares e restaurantes de São Paulo.
No episódio da adulteração de bebidas por metanol, epa, correu a fazer uma defesa precoce do PCC. Tese que o seu próprio secretário de Segurança, Capitão Derrite, tratou de derrubar dias depois, quando admitiu a interferência da organização criminosa no fornecimento de produtos químicos para batizar drinques e coquetéis.
Para entrar de vez no folclore bolsonarista, o governo de Tarcísio de Freitas se enrolou até com o ET Bilú. A Folha de S. Paulo revelou o caso bizarro de uma parceria do Instituto Dakila (o mesmo da moçada do Bilu) com a administração estadual.
Lembram desse alienígena de araque? Vou ajudá-los nessa memória do besteirol nacional.
— Qual é a sua mensagem para a Terra?, perguntou o repórter do programa Domingo Espetacular, da TV Record, à fugidia criatura.
— Apenas que busquem conhecimento, respondeu uma voz que, supostamente, vinha do ET Bilu.
Minutos antes, a entidade, até então creditada como um extraterrestre, aparecera na tela da TV, iluminada pela luz de uma lanterna, no meio do mato, em uma área rural do município de Corguinho, no Mato Grosso do Sul, a 100 km da capital Campo Grande.
Entre outubro e novembro de 2010, diversas emissoras de televisão brasileiras, como SBT, Band e RedeTV, também exploraram o estranho fenômeno — que fez enorme sucesso popular, mas que também foi considerado uma das maiores farsas da ufologia tupiniquim.
A primeira emissora que tentou achar o Bilu no seu habitat foi o SBT, mas não conseguiu vê-lo. O jeito foi se contentar em exibir as imagens de divulgação do porta-voz do ET, Urandir Fernandes de Oliveira, líder de um tal Projeto Portal e autointitulado paranormal e ufólogo.
Numa reportagem do programa CQC (da Band), o Bilu apareceu – ou melhor, quase, já que a imagem era muito confusa, pois no meio de um matagal. Com a voz que imitava a de uma criança, o bicho dizia ter 4.010 anos de idade. Na ocasião, Rafinha Bastos, que apresentava o programa ao lado de Marco Luque e Marcelo Tas, pareceu decifrar o mistério: “Quando o Bilu aparece, o Urandir some”.
Com o Projeto Portal, o mentor do ET do centro-oeste atraiu diversos fiéis que adquiram casas em forma de iglus, com o objetivo de esperar novos extraterrestres em Corguinho. Por causa desses empreendimentos, Urandir respondeu a inquéritos policiais sob acusações de charlatanismo, estelionato e falsidade ideológica. Saiu livre de todos.
Em 2021, o homem por trás do fenômeno Bilu fez uma cruzada negacionista contra a vacinação de Covid-19 no Mato Grosso do Sul. Terraplanista moderado, segue pregando para a sua legião de seguidores que a Terra não é plana e muito menos esférica — é convexa.
Com a ajuda e divulgação do secretário de Cultura do governo Bolsonaro, Mário Frias, o “pai do ET Bilu” — como Urandir ficou conhecido — voltou ao noticiário em junho de 2022. Desta vez, ele anunciou a existência do reino de Ratanabá, uma civilização secreta na Amazônia brasileira. A sua nova “criação” viralizou na internet, deixando eufóricos muitos fãs do extraterrestre de Corguinho e do presidente da República.