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Pela primeira vez desde a criação do Plano Real, os gastos das famílias brasileiras com habitação apresentaram, em agosto, o maior recuo para o mês: uma queda de 0,90%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou nesta quarta-feira (10). Em julho, o setor havia registrado alta de 0,91%.
Esse movimento ajudou a puxar o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) para -0,11%, configurando um episódio de deflação no mês (entenda o que é deflação mais abaixo). A contribuição do grupo Habitação para esse resultado foi de -0,14 ponto percentual.
O maior impacto individual no índice veio da energia elétrica residencial, com retração de 4,21%, responsável sozinha por -0,17 ponto na composição do IPCA. A queda se deveu principalmente à aplicação do Bônus de Itaipu, que foi creditado nas contas emitidas em agosto, além da vigência da bandeira tarifária vermelha patamar 2 e reajustes regionais.
Apesar do alívio, o custo da energia continua volátil. Em agosto, houve aumentos nas tarifas em diversas regiões, com destaque para 18,62% em São Luís (MA), 15,32% em Vitória (ES), e 13,97% em parte de São Paulo.
Lembrando que, além da deflação de agosto, o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre também demonstrou desaquecimento da economia brasileira, como resultado da política monetária mais restritiva.
Atualmente, a taxa básica de juros está em 15% ao ano, e o Banco Central persegue uma meta inflacionária de 3% (centro), podendo oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
Outros itens do grupo Habitação também pressionam o índice
Além da energia elétrica, outros itens do grupo Habitação apresentaram movimentos relevantes em agosto.
A taxa de água e esgoto subiu 0,24%, influenciada por reajustes em Vitória (4,81%) e Salvador (4,97%). Já o gás encanado teve alta de 0,37%, refletindo o reajuste de 6,41% em Curitiba, parcialmente compensado pela queda média de 1,22% no Rio de Janeiro.
Mesmo com essas variações, o efeito predominante foi de queda, com o setor contribuindo decisivamente para o resultado negativo do IPCA no mês.
Deflação: sinal de alívio ou de alerta?
Embora a queda de preços possa parecer uma boa notícia para o consumidor, os economistas alertam que episódios de deflação não devem ser interpretados como um indicativo saudável da economia.
“A deflação só é positiva quando ocorre de forma pontual. Se os preços caem por muito tempo, isso pode sinalizar queda de demanda, redução de renda e desaquecimento econômico”, explicou Emerson Marçal, coordenador do curso de Economia da FGV-SP, ao site InfoMoney.
A deflação acontece quando a oferta de produtos e serviços supera a demanda ou quando há menos dinheiro circulando na economia, o que reduz o poder de compra da população e força empresas a cortarem preços para estimular o consumo. É o oposto da inflação, que reflete o aumento generalizado de preços.
O risco desse movimento é a formação de um ciclo vicioso: preços caem, consumidores adiam compras esperando novas quedas, a demanda encolhe ainda mais e os preços seguem em baixa. Esse cenário pode travar o crescimento econômico e dificultar a retomada da atividade.
Neste momento, no Brasil, a deflação é pontual, já que é a primeira vez que ocorre em um ano.