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Semicondutores viram foco de nova crise na indústria automotiva brasileira

por Adriana Cardoso
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A tensão diplomática entre Holanda e China envolvendo a fabricante de semicondutores Nexperia acendeu um sinal de alerta no setor automotivo brasileiro. A apreensão é de que a disputa leve a uma nova escassez global de chips, repetindo o cenário de paralisações nas montadoras vivido durante a pandemia de Covid-19.

O governo holandês assumiu o controle da Nexperia — empresa de capital chinês — sob o argumento de proteger a propriedade intelectual. Como reação, a China restringiu a exportação de componentes eletrônicos estratégicos, afetando diretamente a cadeia produtiva global.

Na terça-feira (21), o ministro neerlandês de Assuntos Econômicos, Vincent Karremans, conversou por telefone com o ministro do Comércio da China, Wang Wentao, para tentar solucionar o impasse. A conversa foi feita a pedido do país europeu devido à retaliação chinesa. Em resposta à intervenção do governo neerlandês, a China proibiu a exportação de chips para a Nexperia, subsidiária da chinesa Wingtech Technology, o que gerou alerta na indústria automobilística alemã. A Nexperia produz chips simples, mas essenciais para as indústrias automotiva e de eletrônicos de consumo.

Durante a conversa, Wang instou os Países Baixos a “resolver adequadamente” as questões relacionadas à Nexperia, proteger os direitos dos investidores chineses e “promover um ambiente de negócios justo, transparente e previsível”, segundo informou a mídia chinesa CCTV.

No Brasil, montadoras e a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) já alertam para riscos de interrupção das linhas de montagem nas próximas semanas. “Um veículo moderno usa de mil a três mil chips. Sem esses componentes, não há como manter a produção”, afirmou a entidade, que pediu apoio do governo federal para mitigar os efeitos da crise.

Montadoras em alerta e governo monitora cenário de semicondutores

A Volkswagen já admitiu a possibilidade de paralisações na Alemanha, enquanto no Brasil empresas como Hyundai, Renault e Volvo confirmaram estar monitorando a situação e revisando seus estoques. A BYD, por outro lado, afirmou que a integração vertical de sua produção garante maior segurança no abastecimento de semicondutores.

O MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) informou que acompanha de perto os impactos da interrupção na cadeia global de suprimentos e mantém diálogo com o setor para buscar soluções que evitem demissões e perdas produtivas.

Dependência estrutural e risco econômico

Para especialistas, a nova crise de semicondutores expõe a fragilidade da dependência brasileira da cadeia global de semicondutores. Por essa razão, defendem investimento em produção nacional como alternativa estratégica.

Durante a campanha eleitoral de 2022, a equipe de transição do governo Lula discutiu a importância da retomada da produção nacional de semicondutores, que foi sucateada pelo governo de Jair Bolsonaro, incluindo o sucateamento do Ministério de Ciência e Tecnologia.

Uma das estruturas centrais deixada de lado pelo então governo foi o Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia Avançada). A empresa foi uma iniciativa pioneira do segundo mandato do presidente Lula (2008), que produz inteligência de semicondutores.

Com 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos, o setor automotivo é um dos pilares da indústria brasileira. Uma nova escassez de semicondutores pode não apenas interromper a produção de veículos, mas também afetar uma ampla rede de fornecedores e prestadores de serviço — ampliando o impacto sobre o PIB (Produto Interno Bruto) e o emprego.

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