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Que diabo de cristianismo é esse? 

por Amanda Prado
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Por Fábio Pannunzio

A pesquisa Atlas Intel divulgada na tarde desta sexta (31) traz dados estarrecedores sobre como a população brasileira percebeu a chacina da Penha. Alguns dados encerram uma espécie de paradoxo moral que é extremamente preocupante.

O instituto entrevistou 1.527 moradores da cidade do Rio de Janeiro. Toda a população (99,4%) se diz bem informada sobre a tragédia comandada pelo governador Cláudio Castro.

A aprovação da chacina entre a população é enorme. Praticamente dois terços dos cariocas (62,2%) disseram aprovar a matança, contra apenas 34,2% que afirmaram discordar.

Quanto mais expostos ao crime organizado, maior a aprovação à barbárie. Entre moradores de favelas, ela foi de 87,6%, contra apenas 12,1% de desaprovação.

Os cariocas que não vivem nas favelas têm uma visão muito diferente, ainda que a maioria (55%) aprove o que aconteceu. 40,5%, no entanto, disseram desaprovar o espetáculo de violência – três vezes mais do que o índice de desaprovação entre a população favelada.

O levantamento deixa claro que a lente ideológica definitivamente deforma a imagem do morador da cidade do Rio de Janeiro.

Entre os que votaram em Bolsonaro, a aprovação é unânime (99,8%). Entre os eleitores de Lula, a desaprovação é praticamente consensual (78,6%).

Com relação à condição geográfica, a desaprovação só é majoritária entre moradores do Centro, onde 62,5% dos entrevistados condenaram o morticínio. Em todas as demais regiões, até mesmo na Zona Sul, há mais gente que aprova do que desaprova a chacina.

Mas o dado mais estarrecedor brota da estratificação por religião. Entre os evangélicos, 88,5% aprovam a megaoperação de Cláudio Castro, contra apenas 10,8% que desaprovam. Já entre os ateus, a desaprovação é majoritária (54,5%), enquanto 3 em cada 10 dizem aprovar a matança.

É curioso – e lamentável! – que essa nova forma de cristianismo, muitas vezes tão apartada da figura do Cristo, tenha normalizado o massacre, o sangue e o luto.

É nesse ambiente cultural que já estão sendo criadas as narrativas que irão orientar a formação da opinião política que levará ao voto na eleição do ano que vem.

Não é segredo para ninguém que o tema da segurança há muito ocupa o primeiro lugar na pauta de preocupação da população.

O que essa pesquisa demonstra com clareza, no entanto, é que há um fosso entre a percepção dos mais ricos, escolarizados e bem posicionados geograficamente e a dos mais pobres e vulneráveis.

Pelo que essa pesquisa revelou, o campo progressista vai ter muita dificuldade de sustentar o discurso de que violência só gera violência, como a história das últimas cinco décadas tem insistido em provar.

A população, tangida pela violência, cristalizou a ideia de que a opressão tem que ser lavada com sangue.

Agora, durma-se com um barulho desse!

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