Casa EconomiaQuase metade das mulheres com câncer de mama enfrenta dificuldades financeiras

Quase metade das mulheres com câncer de mama enfrenta dificuldades financeiras

por Felipe Rabioglio
0 comentários
quase-metade-das-mulheres-com-cancer-de-mama-enfrenta-dificuldades-financeiras

Por Laiz Menezes

(Folhapress) – Quase metade das mulheres com câncer de mama relata enfrentar dificuldades financeiras durante o tratamento, segundo pesquisa Datafolha encomendada pela Astrazeneca e divulgada nesta segunda-feira (27). Entre os principais obstáculos estão o pagamento de medicamentos e exames, transporte, alimentação e moradia e o acesso a benefícios previdenciários.

De acordo com o levantamento, 48% das mulheres relataram problemas para custear medicamentos e exames e para acessar benefícios previdenciários, e 45% tiveram dificuldade em arcar com despesas de transporte para o tratamento. Obstáculos para manter uma alimentação adequada e para pagar moradia foram citados por 42%.

O levantamento, realizado entre 22 de setembro e 10 de outubro, ouviu 241 pacientes com diagnóstico de câncer de mama em todo o país.

Entre as mulheres que estavam empregadas formalmente (52%) quando receberam a notícia da doença, 53% relataram falta de apoio do empregador, seja na flexibilização de horários, na revisão de metas ou na redução de cobranças.

Para Luciana Holtz, fundadora e presidente do Instituto Oncoguia, os dados da pesquisa confirmam um problema recorrente entre as mulheres com câncer de mama: a chamada “toxicidade financeira” da doença. “Esses custos surgem do nada e impactam profundamente a vida da mulher. Muitas vezes ela não está amparada pelo trabalho, pela família ou por um sistema de saúde que garanta o que precisa naquele momento”, afirma.

A chamada “toxicidade financeira” da doença afeta 48% das pacientes (Foto: José Cruz / Agência Brasil)

A dificuldade de manter o emprego durante o tratamento é, segundo ela, um dos principais fatores que agravam o desequilíbrio financeiro. Perder o trabalho ou precisar do auxílio-doença pode comprometer a renda de toda a família. Mesmo entre pacientes que têm convênio médico há gastos adicionais com medicamentos para náusea, dor e exames genéticos, por exemplo, que nem sempre são cobertos pelos planos de saúde.

O levantamento também revelou falta de apoio social. Três em cada dez pacientes disseram que, em algum momento, faltou alguém para levá-las ou buscá-las em consultas, oferecer suporte durante internações ou cirurgias. Uma em cada quatro afirmou sentir falta de acompanhante durante sessões de tratamento ou em exames importantes.

Além dos desafios financeiros e sociais, a pesquisa destacou desigualdade no acesso a exames que ajudam a personalizar o tratamento das mulheres. Apenas 39% das mulheres entrevistadas fizeram teste genético para identificar mutações associadas ao câncer de mama, percentual que cai para 16% entre as pacientes atendidas exclusivamente pelo SUS (43%).

Especialistas ressaltam que o exame genético é essencial tanto para a prevenção quanto para a escolha de terapias mais eficazes, mas continua restrito a alguns centros de referência e a pacientes que podem arcar com o alto custo na rede privada, que varia de R$ 1.600 a R$ 4.000.

Holtz destaca que falta informação sobre exames genéticos e sobre o próprio câncer de mama. “Muitas mulheres não sabem dizer se fizeram o teste ou qual o subtipo do câncer que têm. Essa informação é vital, porque define todos os passos do tratamento”, diz. “É papel do médico informar, mas também da sociedade civil conscientizar essas pacientes.”

As barreiras de deslocamento também foram citadas na pesquisa. Dentre as pacientes entrevistadas, 45% relataram dificuldade em pagar as despesas de transporte para tratamento. O Ministério da Saúde anunciou na última quinta-feira (22) um auxílio para custear transporte, alimentação e hospedagem de pacientes que precisam se deslocar para radioterapia no SUS.

A pesquisa ainda mostrou que 43% das pacientes sentem falta de espaços para trocar experiências com outras mulheres na mesma situação, reforçando a importância de redes de apoio e de acolhimento emocional durante o tratamento.

Cuidadores enfrentam desafios financeiros e sobrecarga

Uma segunda pesquisa Datafolha feita a pedido da Astrazeneca e divulgada nesta segunda-feira mostra que a rede de apoio das mulheres é formada principalmente por familiares e amigos. O levantamento ouviu 600 cuidadores em todo o país, entre os dias 25 de setembro e 3 de outubro.

Sete em cada dez integrantes da rede de apoio (69%) são parentes das pacientes, enquanto três em cada dez (31%) são amigos. O SUS é o principal local citado de tratamento (44%), seguido por clínicas particulares (33%) e uso combinado dos dois sistemas (23%).

O estudo mostra que o apoio vai além do emocional, embora quase todos (99%) relatem oferecer esse tipo de suporte. A ajuda também inclui troca de informações sobre a doença (94%), amparo espiritual (87%), auxílio nas tarefas domésticas (86%), transporte (85%), finanças (67%) e cuidados com os filhos (55%).

Mais de três em cada quatro (77%) afirmam já ter se sentido despreparados para lidar com a situação, e 73% relatam falta de apoio de outras pessoas. A falta de recursos financeiros também aparece entre as principais dificuldades (64%).

Embora 78% digam ter conseguido equilibrar a vida pessoal com o trabalho de cuidador, muitos reconhecem que precisaram abrir mão de algo: 56% deixaram os estudos em segundo plano, 45% sacrificaram a própria saúde, 39% renunciaram ao lazer e à vida social, e 28% reduziram o envolvimento com o trabalho. Quase metade (45%) se sentiu muito sobrecarregada.

Oito em cada dez afirmam ter ficado mais ansiosos (78%) ou esgotados (77%), seis em cada dez sentiram prejuízo na saúde emocional (60%) e quatro em cada dez notaram efeitos físicos negativos (41%).

você pode gostar