Por Valter Mattos da Costa*
Entre metas e o cansaço, o professor ainda resiste contra uma “industrialização” de seu trabalho.
Na escola, o professor sente o peso de uma máquina que gira sem parar. Cada relatório, cada planilha, cada avaliação externa funciona como um parafuso apertando sua autonomia.
O ensino virou produção em série. O aluno, antes sujeito de possibilidades, é tratado como produto pronto, embalado em notas, gráficos e metas. O valor humano virou número.
Entre metas e o cansaço, o professor ainda resiste contra uma “industrialização” de seu trabalho
Entre metas e cobranças, o professor aprende a sobreviver apertado entre o ideal e o real. A angústia se mistura ao cansaço, e a sala de aula se torna um lugar de resistência silenciosa.
Mas há frestas nessa engrenagem. Entre uma correção e outra, o professor que conversa, escuta e provoca o pensamento, cria um espaço de respiro. Ali ainda pulsa o sentido de ensinar.
A resistência nasce nos gestos mínimos: não seguir o script, reinventar a aula, reconhecer o aluno como alguém e não como dado. Cada ato simbólico fura o metal da máquina.
E é dessa fenda que pode surgir o novo. Quando os professores se olham e se reconhecem, o silêncio vira palavra política. A engrenagem ainda gira, mas agora, quem sabe, com ruído – o ruído da luta.
*Professor de história, especialista em história moderna e contemporânea e mestre em história social, todos pela UFF, doutor em história econômica pela USP e editor da Dissemelhanças Editora