A proposta do presidente Donald Trump de aumentar as importações de carne bovina da Argentina gerou forte reação entre os fazendeiros norte-americanos nesta segunda-feira (20). A medida, segundo Trump, poderia ajudar a reduzir os preços recordes da carne nos EUA, mas produtores rurais afirmam que ela ameaça o mercado interno e coloca em risco os lucros do setor.
Durante viagem no domingo, o presidente declarou que considera a Argentina um aliado importante e que importar “um pouco de carne bovina” ajudaria o país sul-americano.
“Se comprarmos um pouco de carne bovina — não estou falando de muita — da Argentina, isso ajudaria a Argentina, que consideramos um país muito bom, um aliado muito bom”, afirmou Trump a bordo do Air Force One.
A fala veio pouco tempo depois de Washington conceder à Argentina uma linha de swap cambial de US$ 20 bilhões, gesto que já havia irritado agricultores dos EUA.
Os pecuaristas norte-americanos reagiram com indignação à possibilidade de aumento das importações.
“Esse plano apenas cria o caos em uma época crítica do ano para os produtores de gado norte-americanos, sem fazer nada para baixar os preços nos supermercados”, disse Colin Woodall, diretor-executivo da Associação Nacional de Pecuaristas de Carne Bovina.
Outros líderes rurais também criticaram a proposta, lembrando que a Argentina recentemente venceu os EUA nas vendas de soja para a China, maior comprador mundial da commodity.
Já especialistas do Steiner Consulting Group avaliam que as importações argentinas representam apenas cerca de 2% do total comprado pelos EUA e que não seriam suficientes para reduzir de forma significativa os preços internos.
“Os EUA não podem comprar carne bovina da Argentina em quantidade suficiente para movimentar materialmente o mercado”, apontou o grupo em relatório.
Economistas também alertam que o aumento das importações pode desestimular os produtores locais a expandirem seus rebanhos, o que afetaria a autossuficiência alimentar do país.
Carne cara se deve a estoques em baixa e custos elevados
O rebanho bovino dos EUA atingiu, em janeiro, o menor nível em quase 75 anos, resultado de anos de seca, aumento dos custos de alimentação e redução das pastagens. Além disso, o país suspendeu parte das importações de gado do México por causa de preocupações sanitárias relacionadas à bicheira-do-Novo-Mundo, o que agravou a escassez.
As tarifas sobre produtos do Brasil também limitaram a entrada de carne brasileira, pressionando ainda mais o mercado doméstico.
Um porta-voz do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) afirmou que o governo está trabalhando para equilibrar o apoio aos pecuaristas com medidas para conter os preços.
“Essas ações, somadas aos esforços do presidente Trump para garantir mercados duradouros para os produtores no exterior, enviam uma mensagem clara: produzam mais carne bovina e reconstruam o rebanho”, declarou.
Apesar das críticas, a Casa Branca não comentou oficialmente sobre o tema até o momento.