O presidente Lula (PT) embarca nesta terça-feira (21) para uma missão diplomática no Sudeste Asiático, com passagens pela Indonésia e pela Malásia. Além de compromissos econômicos e multilaterais, a viagem pode marcar o primeiro encontro bilateral formal entre Lula e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que deve acontecer na próxima segunda-feira (27), de acordo com informações de reportagem do UOL.
Lula e Trump vão participar da cúpula da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático), em Kuala Lampur, no país asiático. A data do encontro, no entanto, ainda depende de ajustes finais nas agendas dos dois líderes.
Negociadores brasileiros veem o encontro entre Lula e Trump como uma oportunidade de “destravar” temas sensíveis na relação entre Estados Unidos e Brasil. Entre os assuntos prioritários está o chamado “tarifaço” imposto por Trump em julho, que elevou para 50% as taxas sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos. Lula pretende pedir pessoalmente a revogação das medidas e negociar a inclusão de itens como café, carne e calçados em listas de exceção.
Outro tema que poderá ser abordado é a ação movida pelo Brasil na OMC (Organização Mundial do Comércio) contra as tarifas unilaterais norte-americanas. Lula pode sinalizar disposição para encerrar o litígio caso haja avanços concretos na mesa de negociação.
O encontro entre os dois líderes ocorre depois da reunião entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, realizado na quinta-feira passada (15), em Washington, que marcou o reinício formal das negociações bilaterais entre os dois países. Em tom pragmático e cordial, a conversa focou principalmente em temas econômicos e comerciais, deixando de fora questões políticas delicadas que haviam deteriorado o diálogo nos últimos anos.
Lula deve manifestar preocupação com tom radical de Trump sobre países da AL
Além das questões comerciais, o presidente brasileiro também pode se manifestar a respeito do tom beligerante adotado por Trump contra a Venezuela e a Colômbia. Recentemente, o presidente norte-americano classificou o mandatário colombiano Gustavo Petro como “líder do tráfico de drogas ilegais” e ameaçou cortar subsídios ao país vizinho.
Recentemente, Lula afirmou que “o povo venezuelano é dono do seu destino” e que presidente de outro país “não tem que dar palpite”, em referência às ameaças de Trump ao país.
Apesar da gravidade das declarações de Trump, diplomatas brasileiros garantem que o foco do encontro será bilateral e econômico, deixando os temas regionais em segundo plano — ao menos neste primeiro momento.
Agenda apertada, expectativa alta
A reunião está sendo costurada por equipes do Itamaraty e do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), em interlocução com representantes do Departamento de Comércio dos EUA. Segundo auxiliares de Lula, a disposição para o diálogo é mútua, e as conversas telefônicas anteriores entre os dois líderes abriram caminho para uma retomada da interlocução política e econômica.
A expectativa é que a reunião ocorra no domingo, 27 de outubro, data para a qual o Itamaraty já reservou espaço na agenda presidencial. Antes disso, Lula terá encontros bilaterais com lideranças como o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
O Palácio do Planalto vê o encontro como uma chance de “reorganizar” a relação entre os dois países. Avalia-se que, após meses de tensão, o gesto político entre os presidentes poderá marcar um novo patamar nas relações bilaterais.
Antes dessa reunião, Lula esteve brevemente com Trump na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em setembro. Dias atrás, tiveram uma conversa ao telefone.