A análise de amostras de bebidas apreendidas em São Paulo confirmou que parte delas foi adulterada com metanol adicionado artificialmente, e não como resultado do processo natural de destilação. A constatação foi feita por uma força-tarefa do Instituto de Criminalística (IC), criada na última sexta-feira (3) após o aumento dos casos de intoxicação pelo produto no estado.
Segundo o órgão, dois grupos de garrafas foram periciados até o momento, e em ambos as concentrações de metanol estavam acima do limite permitido pela legislação. Os resultados, considerados “inequívocos” quanto à adição da substância, foram encaminhados à Polícia Civil, que conduz as investigações. O IC, no entanto, não informou a quantidade de garrafas analisadas, nem os locais das apreensões.
“O Instituto de Criminalística da Polícia Científica de São Paulo trabalha 24h nas perícias de constatação e concentração das amostras apresentadas pela Polícia Civil, assim como na análise documentoscópica de rótulos e lacres dos recipientes. Pode-se afirmar, até o momento, e de acordo com as concentrações encontradas, que o metanol foi adicionado, não sendo, portanto, produto de destilação natural”, afirmou o órgão em nota.
Desde o início da força-tarefa, mais de 16 mil garrafas foram recolhidas em operações de fiscalização em bares e distribuidoras. A apuração inclui a verificação de embalagens, rótulos e lacres, além de análises químicas que identificam e quantificam o metanol presente.
Mais de 150 casos de suspeita de intoxicação por metanol estão sob investigações na cidade de São Paulo (Foto: Reprodução)
Casos de intoxicação por metanol em São Paulo
O balanço mais recente do governo paulista, divulgado nesta terça-feira (7), aponta 176 casos de suspeita de intoxicação por metanol:
- 18 confirmados (com laudo que comprova a ingestão da bebida adulterada);
- 158 em investigação (aguardam resultados laboratoriais);
- 10 mortes registradas, sendo 3 confirmadas e 7 ainda sob apuração.
- Outros 85 casos foram descartados após exames clínicos.
Fiscalizações e investigações
As fiscalizações também resultaram em novas apreensões e interdições. Na segunda-feira (6), agentes estaduais encontraram mais de 100 mil vasilhames vazios em um galpão clandestino na Vila Formosa, zona leste da capital. Desde o início da operação, 18 estabelecimentos foram vistoriados, e 11 acabaram interditados por irregularidades sanitárias. Além disso, oito empresas tiveram a inscrição estadual suspensa, entre elas a Bebilar Comercial e Distribuidora de Alimentos e Bebidas, Brasil Excellance e Exportadora de Bebidas, BBR Supermercados, FEC Alves Mercearia e Adega, e a Lanchonete Ministro.
As investigações da Polícia Civil seguem duas principais linhas: o uso de metanol para higienizar garrafas reaproveitadas, que teriam voltado ao mercado sem o devido descarte, ou a adição proposital da substância para aumentar o volume de bebidas falsificadas. Em uma das hipóteses, os falsificadores poderiam ter adicionado etanol contaminado por metanol sem saber.
Já a Polícia Federal analisa a possibilidade de ligação entre a contaminação e a megaoperação contra o crime organizado no setor de combustíveis, deflagrada em agosto. Segundo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, há suspeita de que tanques de metanol abandonados após a ação possam ter sido desviados.
“Se esse metanol tiver origem em combustíveis fósseis, é outra hipótese de investigação. Recentemente, tivemos uma enorme ação de combate de infiltração do crime organizado na área de combustíveis e muitos tanques de metanol foram abandonados depois dessa operação. Essa é uma hipótese que está sendo estudada pela Polícia Federal”, disse o ministro, que anunciou a criação de um comitê informal de enfrentamento à crise do metanol.
O metanol é um álcool de uso industrial, altamente tóxico. Quando ingerido, o organismo o transforma em compostos que podem causar cegueira, danos cerebrais, insuficiência renal e até a morte. Por isso, autoridades reforçam o alerta para que a população evite bebidas de origem duvidosa e denuncie produtos sem procedência.