Em um pronunciamento que misturava ameaças, rancor e uma confissão indireta de mecanismos de poder sujos, o presidente da Câmara de vereadores, Pedro Dalua, fez nesta quinta-feira declarações que ecoaram como alguém totalmente desiquilibrado e perdido. Dirigindo-se ao prefeito de Macapá Dr. Furlan (MDB), que pretende concorrer ao governo do Amapá , Dalua deixou claro que o caminho não será fácil e usou dois dos episódios mais traumáticos da recente história democrática do país como exemplo do que pode acontecer.
“Lembrem bem da dona Dilma Rousseff e lembrem bem do Eduardo Cunha. Ele sabia que ia levar o farelo, não foi? Mas ele falou assim: ‘eu derrubo ela antes’”, disse Pedro, repetindo a famosa frase atribuída a Cunha durante o processo que culminou no impeachment de 2016.
A referência não é casual e ganha contornos de uma ameaça direta. Dalua se coloca no mesmo papel de operador máximo que Cunha ocupou, sugerindo que possui instrumentos para “destruir” adversários políticos antes que eles o ameacem. O recado para Furlan, que não é seu aliado, foi claro: desista da candidatura ou enfrente as consequências.
A “Caixa de Ferramentas” da Destruição
A fala mais alarmante, no entanto, foi uma reafirmação de uma antiga máxima do presidente da Câmara: “Volto a dizer, eu ainda não abri a minha caixa de ferramentas e quem me conhece há 30 anos sabe que na hora que eu abri, não fica pedra sobre pedra”.
A tal “caixa de ferramentas” é amplamente interpretada por políticos e analistas como o arsenal de instrumentos de pressão, investigações, orçamentários e de articulação que Dalua controla – legalmente ou não – para premiar aliados e aniquilar opositores. Ao evocar esse poder de “não deixar pedra sobre pedra”, Dalua admite publicamente operar com métodos de destruição, não de construção.
O Arrependimento de um Fantasma
A menção a Eduardo Cunha, porém, carrega uma ironia cruel e um detalhe que Dalua parece ignorar. Cunha, arquiteto do impeachment que Dalaua agora celebra como uma vitória, morreu arrependido de seu papel naquele processo.
Em entrevista à Folha de S.Paulo em 2019, o ex-presidente da Câmara, já afastado e condenado, admitiu que cometera “dois grandes erros”: romper com o governo Dilma e atacar a Procuradoria-Geral da República. Seu cálculo de “derrubar ela antes” para se salvar falhou spectacularmente. Cunha foi preso, condenado a mais de 50 anos e morreu sob a pecha de corrupto, enquanto o sistema que ele ajudou a acionar consumiu-o.
Ao usar Cunha como um troféu e um exemplo de seu poder, Dalua não apenas mostra desprezo pela institucionalidade, mas também uma cegueira estratégica. Ele parece acreditar que seu destino será diferente, que sua “caixa de ferramentas” é infalível e que o poder que detém hoje é permanente.
A declaração de Pedro Dalua vai muito além de uma picuinha eleitoral regional. É a exaltação pública de uma política do vale-tudo, onde o interesse pessoal e a preservação do poder se sobrepõem a qualquer projeto de Estado ou Município . Ele não ameaça apenas Furlan; ameaça a própria democracia ao normalizar a ideia de que destruir adversários é uma ferramenta legítima e corriqueira do jogo político. O fantasma de 2016, com todos os seus erros e arrependimentos, foi invocado não como um aviso, mas como um modelo.




