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Pacote de ajuda dos EUA à Argentina provoca incredulidade em agricultores

por Adriana Cardoso
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O recente pacote de ajuda de US$ 20 bilhões anunciado pelo governo de Donald Trump à Argentina provocou incredulidade entre os agricultores de Iowa (EUA), já que cargas de soja argentina começaram a substituir exportações dos EUA que antes tinham como destino a China. Segundo reportagem do The New York Times, para muitos produtores locais, a guerra comercial em curso trouxe uma série de impactos negativos que vão além do mercado externo: aumento nos preços de tratores e fertilizantes, escassez de mão de obra e demissões em grandes indústrias do setor.

No caso de Iowa, perder o mercado chinês de soja na guerra comercial do presidente Trump foi apenas um dos muitos choques econômicos que atingiram o estado desde o início do segundo mandato do republicano.

Ironicamente, o estado tornou-se um reduto trumpista, e hoje é, muito provavelmente, um dos mais afetados pelas políticas econômicas de Trump.

No primeiro trimestre de 2025, o PIB de Iowa encolheu 6,1%, superado apenas pelo vizinho Nebraska. Setores como a indústria alimentícia e de carne — essenciais para o estado, que é o maior produtor de carne suína dos EUA — sofreram com o aumento de custos e com a perda de trabalhadores estrangeiros, cuja situação legal foi revogada por medidas federais.

A política do governo Trump também tem pressionado a energia renovável: a indústria eólica, responsável por mais da metade da eletricidade estadual, enfrenta incertezas diante das restrições e das mudanças regulatórias.

Economistas e líderes empresariais apontam que, somadas a problemas estruturais como clima adverso, juros altos e envelhecimento da população rural, as novas políticas econômicas amplificam as dificuldades locais.

Recentemente, o presidente dos EUA respondeu às críticas feitas por pecuaristas norte-americanos, afirmando que o bom momento do setor é resultado direto das tarifas impostas por seu governo sobre a importação de carne bovina e gado de outros países, especialmente do Brasil.

“Os pecuaristas, que eu amo, não entendem que a única razão pela qual estão indo bem, pela primeira vez em décadas, é porque eu impus tarifas sobre o gado que entra nos EUA, incluindo uma tarifa de 50% sobre o Brasil”, disse Trump em sua rede social.

A fala de Trump foi uma resposta a fazendeiros norte-americanos, que criticaram a sugestão do presidente de importar mais carne bovina da Argentina. O comentário tinha o objetivo de reduzir os preços recordes da carne nos Estados Unidos, mas gerou forte resistência entre os produtores locais.

A crise dos agricultores e o auxílio controverso

Iowa é o maior produtor de milho e o segundo maior produtor de soja dos Estados Unidos. O país exporta até metade de sua soja, e a grande maioria tinha como destino a China — o equivalente a US$ 12,6 bilhões no ano passado.

Mas produtores de milho e soja lidam com perdas significativas desde que a China interrompeu compras de soja americana em retaliação às tarifas impostas pelo governo Trump. Relações comerciais construídas ao longo de décadas estão em risco, enquanto o auxílio à Argentina, país concorrente, gera descontentamento.

O setor de carne bovina também se mostra vulnerável, com comentários sobre importações estrangeiras afetando preços e decisões de investimento. Para muitos, a ajuda federal não substitui o impacto de uma política comercial que dificulta a venda a preços justos.

Além da agricultura, a dor econômica se estende a caminhoneiros, agrônomos e comerciantes locais. Grandes empregadores, como fabricantes de equipamentos agrícolas, demitiram centenas de trabalhadores, refletindo a volatilidade provocada pelas tarifas e a diminuição das vendas.

Substituir mão de obra estrangeira demitida tem se mostrado complexo, e há dificuldades em atrair trabalhadores norte-americanos para funções já ocupadas por migrantes.

Enquanto alguns habitantes mantêm esperança de acordos comerciais que revertam a situação, a combinação de tarifas, políticas energéticas e desafios demográficos cria um cenário de tensão, incerteza e preocupação econômica para o coração agrícola dos Estados Unidos.

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