Casa EconomiaOxfam: 0,1% de super-ricos lidera emissões que aquecem o planeta

Oxfam: 0,1% de super-ricos lidera emissões que aquecem o planeta

por Adriana Cardoso
0 comentários
oxfam:-0,1%-de-super-ricos-lidera-emissoes-que-aquecem-o-planeta

Às vésperas da COP30 (Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas), que será realizada em Belém em novembro próximo, a Oxfam Internacional divulgou relatório que mostra que o 0,1% dos super-ricos do planeta emite, sozinho, mais dióxido de carbono (CO₂) em um único dia do que metade da população mundial em um ano inteiro.

De acordo com os dados divulgados na quarta-feira (29), enquanto os 50% mais pobres lançaram cerca de 0,8 tonelada de CO₂ por pessoa em 2023, os super-ricos foram responsáveis por 298 toneladas — uma média diária de 800 kg de dióxido de carbono por indivíduo, contra apenas 2 kg entre os mais pobres.

Se toda a população mundial tivesse o mesmo padrão de emissões dos super-ricos, o orçamento de carbono global — limite de gases que ainda pode ser liberado sem ultrapassar o aquecimento de 1,5 °C — seria esgotado em menos de três semanas.

Intitulado “Saque Climático: como poucos poderosos estão levando o planeta ao colapso”, o relatório mostra que:

Desigualdade extrema nas emissões: Uma pessoa que está entre os 0,1% mais ricos do planeta emite mais carbono em um único dia do que uma pessoa entre os 50% mais pobres emite em um ano inteiro.

Esgotamento do orçamento climático: Desde o Acordo de Paris, em 2015, o 1% mais rico queimou mais do que o dobro do orçamento de carbono global em comparação com a metade mais pobre da humanidade somada. Se todos vivessem como o 0,1% mais rico, o orçamento de carbono que ainda permite evitar a catástrofe se esgotaria em menos de três semanas.

Investimentos que destroem o planeta: Os super-ricos não só consomem de forma exagerada, mas também investem suas fortunas em setores poluentes. Quase 60% de seus investimentos estão em petróleo, gás e mineração. As emissões geradas pelos investimentos de apenas 308 bilionários superam as emissões de 118 países combinados.

Influência política tóxica: Esse pequeno grupo usa seu poder econômico para dominar as negociações climáticas, financiar a desinformação e processar governos que tentam agir, garantindo que o mundo continue dependente dos combustíveis fósseis.

Os super-ricos e as desigualdade nas emissões

Desde 1990, as emissões do 0,1% mais rico cresceram 32%, enquanto as dos 50% mais pobres caíram 3%. Para a Oxfam, isso mostra que a crise climática é também uma crise de desigualdade. “Os indivíduos mais ricos financiam e lucram com a destruição do clima, enquanto a maioria paga o preço das consequências fatais do seu poder sem controle”, afirmou Amitabh Behar, diretor-executivo da organização.

Os investimentos dos bilionários agravam o quadro. Segundo a Oxfam, a carteira média de um bilionário gera 1,9 milhão de toneladas de CO₂ por ano, e 60% de seus investimentos estão concentrados em setores de alto impacto climático, como petróleo, gás e mineração. As emissões combinadas das carteiras de 308 bilionários superam as de 118 países juntos.

Países ricos poluem mais

O relatório cita estudo do economista Jason Hickel (2020), que atribui 40% da responsabilidade pela crise climática aos Estados Unidos, seguidos pela União Europeia (29%) e pelo restante da Europa e do Norte Global. O Sul Global, onde vive a maior parte da população mundial, responde por apenas 8% das emissões históricas.

Essa desigualdade se reflete também dentro dos países. No Brasil, os mais ricos — especialmente ligados ao agronegócio e à extração de recursos — emitem centenas de vezes mais do que a população em geral. “Enquanto isso, comunidades periféricas, indígenas e quilombolas enfrentam enchentes, calor extremo e falta de serviços básicos — um claro caso de racismo ambiental”, destaca Viviana Santiago, diretora da Oxfam Brasil.

Taxar fortunas é o caminho

A Oxfam alerta que, se nada mudar, as emissões do 1% mais rico poderão causar 1,3 milhão de mortes por calor até o fim do século e gerar US$ 44 trilhões em danos econômicos até 2050. Para conter o avanço da crise, seria necessário que esse grupo reduzisse suas emissões em 97% até 2030.

Behar defende medidas mais rígidas nas negociações climáticas: “Precisamos quebrar o controle dos super-ricos sobre a política climática, taxar suas fortunas e proibir o lobby das indústrias fósseis”.

Na COP 29, realizada no Azerbaijão em 2024, 1.773 lobistas do setor de petróleo, carvão e gás receberam credenciais — mais do que o total de representantes dos dez países mais vulneráveis ao clima.

você pode gostar