Casa EconomiaOperação Contenção: mais um capítulo da inútil guerra às drogas no Rio

Operação Contenção: mais um capítulo da inútil guerra às drogas no Rio

por Bia Abramo
0 comentários
operacao-contencao:-mais-um-capitulo-da-inutil-guerra-as-drogas-no-rio

Por Marcelo Vilhena Pinheiro*

No dia 28 de outubro de 2025, o Rio de Janeiro viveu o capítulo mais brutal de sua história de incontáveis operações policiais que terminam em massacres. As imagens da Praça da Penha, na zona norte da capital, amanhecendo com uma fileira de corpos estendidos para identificação por parte dos familiares, repercutiram em toda a grande imprensa internacional.

Para os que acompanham os noticiários, lamentavelmente, tornou-se comum — não normal, mas comum, é fundamental que não normalizemos — o triste cotidiano das comunidades e bairros marginalizados do Rio, que sobrevivem dia após dia temendo intervenções da polícia, instituição de maior protagonismo na necropolítica da direita brasileira. Com um número de mortos que já passa de 120, incluindo 4 policiais, a letalidade já superou com folga a recente Chacina do Jacarezinho, que deixou 28 mortos em 2021.

Cada vez mais se evidencia que a infrutífera e sangrenta guerra às drogas é o maior pretexto da elite política e econômica para a “limpeza” de uma população. Ao eliminar covardemente vidas negligenciadas e desamparadas pelo Estado — seja de trabalhadores comuns, seja de suspeitos de integrar facções criminosas –, a menor das preocupações dos responsáveis é se há diferença entre os dois grupos. O assassinato de pessoas pobres e majoritariamente negras nas operações em comunidades não é um acidente, mas um projeto político.

Com a possível candidatura ao Senado, o ex-vice de Wilson Witzel se utiliza de chacinas como esta para alavancar votos de cidadãos que acreditam que esses abomináveis episódios representam a eficiência do serviço público de segurança. Esse extermínio não pode ser considerado uma política de segurança pública, que deveria, na realidade, se pautar pela desarticulação e desmonetização das facções, com uma atuação inteligente e que preserve a integridade da população (inclusive dos agentes policiais, é importante salientar que também são vítimas da guerra às drogas).

No entanto, Cláudio Castro não compartilha dessa opinião, como deixou claro em entrevista que deu na manhã seguinte à chacina, afirmando que a operação foi um “sucesso” e que “de vítimas lá, só tivemos os policiais”, mostrando-se conivente com as inúmeras execuções sumárias. Além disso, o governador afirmou que “o Rio está sozinho nesta guerra”, reclamando por ser forçado a agir sem a ajuda do governo federal.

No entanto, é relevante lembrar que Cláudio sempre se opôs à PEC da Segurança Pública (que propõe o reforço da atuação federal na segurança), inclusive assinando a Carta de Florianópolis, no COSUD, no fim do ano passado, onde consta que “as regiões Sul e Sudeste têm hoje, de forma geral, sistemas de segurança eficientes já estabelecidos”.

Por último, friso que a crítica, que ressurge toda vez que ocorre um episódio como este, feita pela extrema-direita à posição da esquerda, de questionar unicamente a ação da polícia em massacres oriundos de confrontos desta com o crime organizado, “passando a mão na cabeça dos bandidos”, como dizem, carece de qualquer espécie de coerência. Isso porque a instituição policial, destinada ao cumprimento do serviço estatal de segurança pública, deve ser cobrada sobre sua eficácia e atuação dentro dos limites da lei por aqueles que a mantêm e são (teoricamente) servidos por ela. Não há racionalidade alguma em exigir um comportamento fiel à legislação por parte de uma organização criminosa, e demandar respeito da corporação policial à Constituição Federal não é apenas um direito, mas um dever de todos aqueles que ousam considerar-se minimamente civilizados.

*Estudante de Direito e estagiário da Defensoria Pública

você pode gostar