Casa EconomiaO poço sem fundo de Milei: Bolsa em queda, escândalos, economia em frangalhos

O poço sem fundo de Milei: Bolsa em queda, escândalos, economia em frangalhos

por Adriana Cardoso
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Prestes a completar 55 anos, o presidente da Argentina, Javier Milei, vive um de seus piores momentos no cargo. Em 2025, o índice Merval da Bolsa de Buenos Aires, o principal índice acionário do país, acumula queda de 30% em pesos até o fim de setembro — a pior performance entre os 21 principais mercados do mundo. Quando ajustada para o dólar, a queda atinge alarmantes 47,1%, devido à rápida desvalorização do peso argentino nas últimas semanas.

A deterioração contrasta com o otimismo do ano anterior, quando os investidores reagiram com euforia à chamada “terapia de choque” liberal promovida por Milei. Em 2024, a Bolsa havia subido mais de 170%, num dos melhores desempenhos globais. Agora, os números revelam o esgotamento da confiança diante da fragilidade política, escândalos de corrupção e reversões eleitorais que atingem o governo.

Um dos principais focos da atual crise é o vazamento de áudios que sugerem um esquema de propinas envolvendo Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Presidência. As gravações citam também o ex-diretor da Andis (Agência Nacional de Pessoas com Deficiência), Diego Spagnuolo, amigo pessoal do presidente, e o assessor Eduardo “Lule” Menem, ligado à tradicional família política argentina.

Segundo os áudios, o grupo cobraria até 8% sobre contratos com empresas farmacêuticas, em troca de vantagens em compras públicas de medicamentos. O escândalo atinge diretamente o discurso anticorrupção de Milei e fragiliza sua retórica contra a chamada “casta política”.

Karina Milei, apelidada de “o chefe” pelo próprio irmão, é considerada a principal conselheira presidencial. A proximidade com os envolvidos e a centralização de decisões nas mãos de familiares expõem a dependência política e emocional do presidente em relação a seu entorno mais próximo.

Derrota eleitoral e rejeição popular crescem

O desgaste político se agravou após a derrota nas eleições legislativas na província de Buenos Aires, a maior do país. O partido de Milei, A Liberdade Avança (LLA), ficou 13 pontos atrás da coalizão opositora Força Pátria, liderada pelo governador Axel Kicillof, ligado ao kirchnerismo. A província concentra quase 40% do eleitorado nacional.

Além da derrota nas urnas, Milei tem enfrentado queda de aprovação popular. Pesquisa da Bloomberg/AtlasIntel mostra que 53,7% desaprovam sua gestão, contra 42,4% que aprovam. É o pior índice desde sua posse. O apoio ao governo caiu cerca de 10 pontos percentuais nos dois meses que antecederam a eleição, segundo a consultoria Trespuntozero.

Apoio internacional seletivo

Mesmo com o agravamento da crise interna, Milei recebeu apoio de figuras internacionais. O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou “apoio total” ao presidente argentino e prometeu recebê-lo na Casa Branca no dia 14 de outubro.

O atual secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, anunciou ainda um plano de socorro de US$ 20 bilhões ao país — embora os detalhes e prazos não tenham sido especificados.

Para analistas argentinos, no entanto, essas declarações têm pouco impacto prático na opinião pública.

O estilo provocador e polarizador que marcou a ascensão de Milei também começa a mostrar sinais de esgotamento. Após protestos em visitas pelo país e dificuldades de articulação no Congresso, o presidente fez um raro discurso em tom conciliador em rede nacional — sem usar seu bordão característico, “Viva la libertad, carajo”.

Analistas apontam um sentimento de “fadiga” do eleitorado, especialmente diante das dificuldades econômicas persistentes, vetos a políticas sociais e escândalos envolvendo aliados. A aprovação do governo caiu de cerca de 50% para menos de 40% ao longo de 2025, segundo dados da Trespuntozero.

Reeleição ameaçada e Congresso hostil

Às vésperas de completar 55 anos, no próximo dia 22 de outubro, Javier Milei encara um ambiente político desfavorável, um Congresso com maioria oposicionista e uma base social em erosão. As eleições legislativas de 26 de outubro são vistas como um plebiscito informal sobre seu governo.

Apesar de ainda contar com parte do eleitorado fiel, a combinação de crise econômica, denúncias e isolamento indica um cenário de alta instabilidade para os próximos meses — e levanta dúvidas sobre a viabilidade do projeto político do presidente libertário.

ICL estreia documentário sobre a Argentina

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