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O Congresso da impunidade

por Vivian Mesquita
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“Incompetente”. Foi assim que o deputado federal Zucco (PL-RS), líder da oposição na Câmara, decidiu encerrar uma pergunta que não soube responder. A repórter do ICL, Manuela Borges, questionava a defesa da oposição pela permanência de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos – exílio dourado onde ele conspira contra o Brasil, às custas do bolso da população.

Sem resposta, prevaleceu a covardia. O gesto foi automático: desrespeitar, desqualificar, virar as costas e sair andando. É o manual da extrema-direita, que parece ter aprendido a atacar primeiro as mulheres – sobretudo as jornalistas.

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Manuela não é novata nessa cena. Já foi alvo do próprio Jair Bolsonaro, ainda nos tempos em que ele circulava pelos corredores da Câmara dos Deputados. Bastou uma pergunta sobre a ditadura militar para que ele, sem argumentos, partisse para a violência verbal: “idiota”, “ignorante”. Covardia de sempre, embalada na arrogância de quem teme a verdade.

O ataque à imprensa – e em especial às mulheres – virou marca registrada de um dos congressos mais vergonhosos que o Brasil já teve. A PEC da impunidade e a tentativa de anistiar golpistas são a assinatura final: um cheque em branco para quem deseja rasgar a Constituição em nome de homens e ideias criminosas.

Dois anos e meio de investigação traçaram o mapa da tentativa de golpe. Da farsa contra as urnas eletrônicas ao 8 de janeiro, a justiça brasileira reconstituiu cada passo. E foi uma mulher, Cármen Lúcia, quem deu o voto determinante para condenar o núcleo central dessa trama. A poesia da justiça, às vezes, tem nome e rosto feminino.

Enquanto isso, Bolsonaro coleciona processos: obstrução de justiça, racismo e, inevitavelmente, as mortes da pandemia. Estudos indicam que mais de 300 mil vidas poderiam ter sido salvas não fosse o negacionismo que desacreditou vacinas, ridicularizou medidas sanitárias e incentivou empresas a manterem trabalhadores expostos ao vírus. Um crime contra a vida, disfarçado de política.

E, ainda assim, para parte do Congresso, salvar homens como Bolsonaro é prioridade absoluta – acima da ética, da justiça, dos direitos constitucionais, da vida e, paradoxalmente, até da morte.

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