Em um contraste que escancara a prioridade real de um governo, a Escola Estadual Joaquim Barbosa Picanço, localizada na comunidade quilombola do Ambé, vive uma situação de abandono que beira o surreal. Inaugurada há menos de dois meses com festa, discursos de inclusão e o “glamour” habitual das fotos oficiais, a unidade de ensino já apresenta um quadro de degradação que coloca em risco a saúde e a educação de dezenas de estudantes.
A denúncia parte dos próprios moradores, alunos e pais, que se veem obrigados a conviver com problemas que deveriam ser inconcebíveis em qualquer estabelecimento de ensino. A fiação elétrica da escola apresenta falhas graves, deixando o prédio escolar no escuro e, pior, à mercê de um calor insuportável sem o funcionamento das centrais de ar . Há mais de 60 dias, as aulas tentam seguir em condições mínimas, onde o aprendizado é disputado com o desconforto e a falta de recursos básicos.
Mas o cenário atinge um nível de gravidade ainda maior. A comunidade descobriu, estarrecida, que a caixa d’água da escola está infestada de sapos. A água que deveria matar a sede de crianças e adolescentes e ser usada para higiene foi transformada em um potencial vetor de doenças. A imagem de anfíbios dentro do reservatório é a metáfora mais crua do descuido e do esquecimento a que foi relegada essa população.
Esta não é uma mera falha na prestação de serviços. É a negação de um direito constitucional. É a materialização do abismo que separa a retórica oficial de “qualidade e inclusão” da prática perversa do descaso, especialmente quando se trata de uma comunidade quilombola, historicamente invisibilizada pelos poderes públicos.
A revolta que cresce entre as famílias do Ambé é mais do que justificada. Eles não pedem luxo ou inovações. Exigem o óbvio: um ambiente escolar digno, limpo e seguro. O mesmo que foi prometido com pompa na inauguração e que, em poucas semanas, se mostrou uma farsa.
A situação da Escola Joaquim Barbosa Picanço é um alerta severo. Denuncia que, para o governo, algumas inaugurações são apenas eventos de marketing, enquanto a manutenção e o cuidado com a vida dos estudantes – sobretudo os mais vulneráveis – são tratados como uma afterthought, um detalhe sem importância. Enquanto isso, no Ambé, as crianças aprendem, na prática, uma lição amarga sobre desigualdade e a dura realidade de serem cidadãos de segunda classe.




