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‘Nunca vi chacina igual a esta’, diz liderança comunitária após operação mais letal da história do RJ

por Gabriel Anjos
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Por Gabriel Gomes*

Um dia após a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, com 64 mortos pelos números oficiais, a cena de moradores do Complexo da Penha levando mais dezenas de corpos (64 até o momento) para a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, uma das principais da região, ganhou enorme repercussão no país. A princípio, os corpos levados à praça não foram contabilizados no balanço oficial de mortes, o que totabiliza 128 mortos, segundo informações do G1.

Até então, a operação mais letal do Rio tinha ocorrido na Favela do Jacarezinho, em maior de 2021, com 28 mortos em ação policial. Uma operação na Vila Cruzeiro, em maio de 2022, resultou em 24 mortes. Todas as operações aconteceram no governo de Cláudio Castro (PL).

Corpos são levados para praça na Penha. (Foto: Raull Santiago/Arquivo pessoal)

Em meio aos corpos levados à Estrada José Rucas, lideranças comunitárias dos  complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte, alvos da operação, tentam prestar apoio aos familiares das vítimas. Uma delas é Ramildo Belizário, de 63 anos, que vestia uma camisa “As favelas pedem paz”.

Ramildo afirmou que “nunca viu algo parecido” com as cenas da operação desta terça-feira (28). “Nunca vi algo parecido. Eu estive na chacina do Jacarezinho, do Alemão e igual a essa aqui, eu nunca vi. Foi uma tragédia anunciada, o governador Cláudio Castro avisou, pertubando dois anos para que tivesse intervenção policial dentro do Complexo da Penha — e tá aí o resultado: famílias chorando e o sangue derramado dentro da comunidade”.

Um grupo de moradores do Complexo da Penha estendeu uma faixa, na manhã desta quarta-feira (29), em meio aos corpos levados para Praça São Lucas, com a frase “Cláudio Castro assassino terrorista!”.

‘Se acontecer uma outra desta, eu não aguento mais’, diz liderança comunitária

Diante do número de mortos, que ainda pode aumentar, Ramildo Belizário afirma que as lideranças comunitárias dos complexos do Alemão e da Penha vão se mobilizar e acionar a Defensoria Pública e entidades de Direitos Humanos.  “Esse governo (Cláudio Castro) não pode ficar”, diz.

“A gente vai se mobilizar para ver o que pode ser feito. Acionar a Defensoria, os Direitos Humanos, para ver o próximo passos que vão ser dados. Esse governo (Cláudio Castro) não pode ficar. Espero que o Poder Público federal intervenha porque, se acontecer uma desta de novo, acho que eu não aguento mais, não”, afirmou Ramildo Belizário.

“Como liderança da comunidade, a gente tem que dar todo apoio aos familiares que sofrem e que precisam de ajuda. Infelizmente, é mais um dia triste pra nossa comunidade”, completou.

Uma nota conjunta de 27 organizações da sociedade civil repudiou a operação. Segundo as organizações, “segurança pública não se faz com sangue” e os resultados da operação desta terça-feira expõem “o fracasso e a violência estrutural da política de segurança no estado”.

Para especialistas, a operação gerou um grande impacto na capital fluminense e não atingiu o objetivo de conter o crime organizado, pelo contrário, ações como esta apenas fortalecem a violência.

“Essa lógica de medir força armada bélica com estruturas do tráfico sempre resultaram em mortes cada vez maiores, em sofrimento cada vez mais intenso, perda de acesso a serviços públicos, perda de mobilidade urbana, os mais frágeis sempre vão sofrer muito mais. A economia é afetada diretamente e o problema nunca foi sequer arranhado”, diz o professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), José Cláudio Souza Alves à Agência Brasil.

“Isso tudo que vocês estão vendo aí hoje, arrebentando no Rio de Janeiro todo, é apenas uma imensa e gigantesca cortina de fumaça, um rolo gigantesco de fumaça cegando a todos”, diz, Alves.

*Com apuração da ONG Rio de Paz

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