A presidenta nacional do PSOL, Paula Coradi, teve o visto de entrada nos Estados Unidos retirado pelo governo de Donald Trump na sexta-feira (26). O motivo, segundo ela, pode ter sido a participação no Congresso dos Socialistas Democratas da América, em agosto.
Paula teve um visto emitido em 2018 e solicitou um novo depois do extravio do passaporte que continha a autorização válida, em preparação para viagem a Chicago em 2025.
Em entrevista ao ICL Notícias ela comenta a medida, critica a tentativa de entreferência do governo dos Estados Unidos no Brasil e opina que o Brasil deve continuar resistindo a essas pressões.
Paula Coradi
ICL Notícias – Quando foi comunicada dessa suspensão do visto?
Paula Coradi – Recebi um e-mail segunda-feira (22) [do governo americano] dizendo que eu precisava me explicar sobre o porquê eu não deveria perder o meu visto. E aí respondi dizendo que não tinha cometido nenhum ato que me tornaria inelegível para o visto e perguntei do porquê e sobre o que eu precisaria me explicar. Então recebi um e-mail às 11h mais ou menos da sexta-feira (26) dizendo que poderia ser que eu precisasse enviar alguns documentos complementares. Umas duas, três horas depois eles enviaram e-mail cancelando visto, assim, sem nenhuma explicação.
O que acha que motivou essa medida do governo norte-americano?
Eu fui no começo de agosto no congresso do DSA (Democratic Socialists of America). É o congresso dos socialistas democratas da América, o pessoal do Berny Sanders… Fomos convidados para essa atividade. Eu fui e acredito que esse seja um dos motivos. Inclusive o pessoal do DSA aprovou uma nota de solidariedade, eles também acham que tem conexão entre os fatos.
Uma deputada federal deles, Rashida Tlaib, vai apresentar um requerimento pedindo para as autoridades americanas se explicarem sobre o cancelamento do meu visto, porque eles acreditam que essas coisas estejam conectadas. Eu também acredito.
Combinado a isso pode ter algo relacionado à defesa intransigente do PSOL da soberania brasileira e à luta contra anistia pro Bolsonaro, já que ele tornou isso um tema da relação entre os Estados Unidos e o Brasil em torno do tarifaço. Como também existe uma grande perseguição contra quem denuncia o genocídio do povo palestino, pode ser que tudo isso tenha relação mas eu acredito que a relação mais forte tem a ver com a ida ao congresso do DSA.
Que diferença fará para você esse cancelamento de visto?
Pra mim não vai fazer muita diferença porque o meu interesse em ir para os Estados Unidos é estritamente profissional. Agora foi minha foi a primeira vez que eu fui. Estive em Chicago, no congresso do DSA.
A diferença que vai fazer é no sentido estritamente profissional. A passeio, a lazer, realmente não é algo que esteja na minha lista de prioridades ou de vontades também.
Como avalia prática do governo Trump de usar sanções contra políticos ou figuras do Judiciário para tentar interferir na Justiça do Brasil ?
Acho que essa prática do governo Trump busca a intimidação, busca uma interferência direta. Então essas sanções devem ter total repúdio da sociedade porque é uma clara tentativa de intimidação. Eu acho que nós não devemos aceitar esse tipo de interferência, seja através de ataques pontuais e pessoais a determinadas figuras quanto o próprio tarifaço. Embora nós tenhamos muitas razões pra acreditar que a motivação não seja só política, devido às questões econômicas que o Brasil tem desenvolvido em torno dos BRICS, da defesa do multilateralismo, do debate em torno da exploração das terras raras, do interesse deles nas nossas riquezas naturais, mas nós não podemos ignorar a justificativa e que foi um fato político.
E eu acredito que esse tipo de intimidação fragiliza as democracias, é um nítido e contundente ataque imperialista. Acredito que a gente está no caminho certo de não ceder, de tentar buscar as negociações e também não fazer com que essas tarifas interferissem no julgamento do Bolsonaro.
Quem saiu fortalecido desse processo foi a democracia brasileira. Acho que a gente tem que seguir firme na luta contra qualquer tipo de interferência dos Estados Unidos aqui.