Casa EconomiaNa carona do ‘amigo’: Elmar Nascimento viajou em jatinho atribuído a Antonio Rueda

Na carona do ‘amigo’: Elmar Nascimento viajou em jatinho atribuído a Antonio Rueda

por Chico Alves
0 comentários
na-carona-do-‘amigo’:-elmar-nascimento-viajou-em-jatinho-atribuido-a-antonio-rueda

Por Alice Maciel e Flávio VM Costa

O deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil-BA) pegou carona de Brasília a Trancoso (BA) em uma aeronave operada pela empresa de táxi aéreo investigada por suspeita de ligação com o PCC, segundo relatório de fiscalização da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). O jatinho em que o parlamentar viajou na noite de 12 de março deste ano está entre os quatro citados à Polícia Federal (PF) por um ex-piloto da companhia como pertencentes ao presidente do União Brasil, Antonio Rueda.

Segundo o relatório da ANAC, “o passageiro seria amigo do proprietário da aeronave”. O documento aponta que Elmar Nascimento era o único passageiro a bordo, mas que não houve tempo hábil para entrevistá-lo – o que justifica a falta de detalhes no relatório sobre a relação entre o deputado e o dono do jatinho.

Procurado, Elmar Nascimento informou por meio de sua assessoria de imprensa que não irá se manifestar..

Um dos nomes mais proeminentes do chamado Centrão, ele é o atual 2º vice-presidente da Câmara e chegou a ser cotado como favorito para suceder Arthur Lira (PP/AL) na presidência da casa legislativa. Acabou perdendo a primazia para Hugo Motta (Republicanos-PB).

Nascimento integra a cúpula nacional do União Brasil, partido presidido por Rueda, de quem é aliado. Rueda defendeu até o último minuto a candidatura de seu correligionário à Presidência da Câmara, no ano passado.

Antonio Rueda

Jato usado foi alvo de apuração da ANAC

Servidores da ANAC foram ao aeroporto de Brasília para apurar uma denúncia anônima de que o bimotor Raytheon 390 Premier, matrícula PR-JRR, estaria realizando transporte clandestino de passageiros. Isso porque a aeronave estava registrada como de uso privado, na categoria de Serviços Aéreos Privados (TPP), o que impede a realização de voos remunerados, mesmo sendo gerida por uma empresa de táxi aéreo.

O jatinho está em nome da holding Fênix Participações, que tem entre seus sócios o advogado Caio Cesar Vieira Rocha – filho do ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça, César Asfor Rocha – e o ex-senador Chiquinho Feitosa (Republicanos-CE).

Até o início de setembro, a aeronave era operada pela Táxi Aéreo Piracicaba (TAP). Mas, segundo o ex-piloto da companhia, Mauro Mattosinho, o verdadeiro dono é Antonio Rueda.

Procurada para esclarecer as circunstâncias do voo, a TAP informou que não vai se manifestar, uma vez que o processo da Anac foi arquivado. A Fênix Participações não respondeu aos questionamentos da reportagem.

Aeronave que foi denunciada à ANAC. (Foto: Jetphtos/Luca Daneley)

De acordo com depoimento de Mattosinho à PF, Rueda possui ao menos quatro dos dez jatos operados pela TAP. Em entrevista exclusiva ao ICL Notícias, publicada em 18 de setembro, o piloto contou que Rueda era citado por seu ex-chefe como o líder de um grupo que “tinha muito dinheiro que precisava gastar” na compra de aeronaves.

O presidente do União Brasil nega ser dono dos aviões. Ele afirmou por meio de nota que “já voou em aeronaves particulares em voos fretados por ele ou como convidado”, mas que “nunca participou da compra das aeronaves”. E que costuma realizar seus deslocamentos “em voos comerciais”.

Mauro Mattosinho também revelou que no período que trabalhou na TAP, de novembro de 2023 a setembro de 2025, transportou dezenas de vezes Roberto Augusto Leme da Silva, mais conhecido como “Beto Louco”, e Mohamad Hussein Mourad, apelidado de “Primo”, a dupla acusada de comandar um mega-esquema de lavagem de dinheiro que atendia ao PCC. Além disso, a reportagem mostrou que o dono da TAP, Epaminondas Chenu Madeira, tem relação com um fundo de investimento investigado no mesmo esquema.

Trecho do Relatório de Ocorrência da ANAC

Após denúncias, Fênix desfez negócios com a TAP

Três dias após a primeira reportagem publicada pelo ICL Notícias sobre a possível relação da TAP com pessoas ligadas ao PCC, a Fênix Participações protocolou na ANAC um documento informando o fim da parceria com a TAP.

De acordo com registros da agência, em 4 de setembro, a Fênix formalizou o fim do contrato que permitia à TAP operar seu jatinho — um acordo conhecido como cessão de uso não onerosa, em que a aeronave é cedida sem pagamento envolvido à dona do avião.

Segundo documento apresentado pela holding à ANAC, a TAP operava o avião da Fênix desde janeiro deste ano. No entanto, somente em agosto a empresa protocolou o contrato formal de cessão, no valor de R$ 120 mil, assinado em 21 de julho, mas com efeito retroativo a 20 de janeiro. Este documento foi protocolado ao longo do processo administrativo de apuração da denúncia de Transporte Aéreo Clandestino de Passageiro (TACA Pax) contra a empresa.

A fiscalização no jato registrado em nome da Fênix  foi realizada no dia 12 de março, uma quarta-feira, às 20h. Os fiscais da ANAC foram até o aeroporto de Brasília para inspecionar o bimotor e se depararam com o deputado federal Elmar Nascimento.

O destino do político, segundo o documento da ANAC, era o aeroporto particular Terravista, que fica em Trancoso, distrito de Porto Seguro. Conforme revelou o portal UOL, o parlamentar aluga uma mansão em Trancoso de um empresário investigado por corrupção.

De acordo com o relatório de fiscalização da ANAC, “não foi possível estabelecer o vínculo existente entre o operador da aeronave e os passageiros do referido voo”.

Na ocasião, também foi apresentada uma nota fiscal de abastecimento em nome da TAP — que, até então, não era oficialmente registrada como operadora da aeronave. A ANAC chegou a aplicar uma multa à Fênix, mas a empresa recorreu e conseguiu reverter a penalidade.

“A fim de se configurar o TACA Pax, há de se demonstrar o nexo causal entre o pagamento, ainda que indireto como no caso dos custos da operação (combustível), e o passageiro que fora transportado. No presente caso, não restou evidenciado nos autos a relação entre o Sr. Elmar José Vieira Nascimento e a empresa Táxi Aéreo Piracicaba LTDA a fim de comprovar que o abastecimento realizado por essa empresa seria um contraprestação pelo seu transporte”, concluiu a coordenadora de julgamento e gestão de processos administrativos, Carolina Moura Carneiro.

você pode gostar