Por Cleber Lourenço
A condução política de Hugo Motta (Republicanos-PB) entrou em modo de contenção depois da forte reação contrária à PEC da bandidagem. Para tentar atravessar a semana sem ampliar o desgaste, o presidente da Câmara articulou uma pauta mais leve, discutida em reunião preliminar com líderes realizada em sua residência oficial por volta das 14h, antes do encontro formal da Casa. O arranjo buscou reduzir a exposição da Câmara e do próprio Motta, que vinha sendo alvo de protestos nas ruas e pressão crescente entre parlamentares.
A agenda, entretanto, não foi construída pelo próprio Motta, mas sim preparada pelo Palácio do Planalto e apresentada ontem aos líderes governistas. O roteiro priorizou a medida provisória do Mais Especialistas, ajustes no chamado PL da devastação e outros projetos de menor impacto político. Já temas de peso social, como o pacote de segurança pública, a discussão sobre o fim da jornada 6×1 e a isenção do imposto de renda até R$ 5 mil, permaneceram congelados. A expectativa à época era de que, ao menos, a isenção do IR fosse pautada na semana seguinte.
Presidente da Câmara, Hugo Motta (Foto: Agência Brasil)
O deputado Mário Heringer (PDT-MG), líder do partido e presente na reunião preliminar, confirmou ao ICL Notícias o objetivo de “abaixar a fervura”. Apesar disso, demonstrou ceticismo quanto ao resultado: “Não acredito que isso vá adiantar para abaixar a fervura”, afirmou.
Paralelamente, Motta buscava construir uma trégua com o governo, movimento interpretado como tentativa de sobreviver ao desgaste. Mas as feridas da PEC da bandidagem permaneceram abertas. O presidente da Câmara seguiu acusando o PT de quebrar um acordo que previa a compensação de votos caso houvesse deserções do PL. A legenda governista, na visão de Motta, entregou menos apoio do que o prometido, o que agravou a cobrança e expôs deputados petistas a críticas pesadas após a aprovação da PEC.
Deputados presentes relataram que esse ponto ficou em suspenso, com a perspectiva de um futuro acerto de contas entre Motta e a bancada petista. Ou seja, mesmo diante da tentativa de distensão com o Planalto, as relações internas continuaram marcadas por desconfiança.
Vale ressaltar que, conforme apontado pelo ICL Notícias, o centrão ainda busca maneiras para evitar a taxação dos super-ricos e deve concentrar forças neste debate na próxima semana.
Na tentativa de virar a página, Motta recorreu à comunicação direta. Em suas redes sociais, anunciou a previsão de votação da isenção do imposto de renda para o dia 1º de outubro: “A Câmara dos Deputados votará na quarta-feira (1/10) o projeto de isenção do imposto de renda (PL 1087/25), sob relatoria do deputado @ArthurLira_. O parlamentar apresentou hoje seu relatório ao Colégio de Líderes. Vamos avançar com equilíbrio e diálogo, trabalhando em pautas importantes para o Brasil”, escreveu. A mensagem buscou marcar uma agenda positiva após dias de pressão intensa.