Casa EconomiaMilei faz nova intervenção no câmbio; economista do ICL analisa os impactos

Milei faz nova intervenção no câmbio; economista do ICL analisa os impactos

por Adriana Cardoso
0 comentários
milei-faz-nova-intervencao-no-cambio;-economista-do-icl-analisa-os-impactos

ouça este conteúdo

00:00 / 00:00

1x

Em meio a uma nova onda de instabilidade cambial, o governo de Javier Milei voltou a intervir no mercado na quinta-feira (18), vendendo US$ 379 milhões para conter a alta do dólar, que superou o teto da banda cambial estabelecida. Somando-se à intervenção de quarta-feira (17), o montante injetado em apenas dois dias já chega a US$ 432 milhões.

O dólar oficial fechou o dia cotado a 1.474,23 pesos, muito próximo do limite diário da banda, fixado em 1.474,83 pesos. O sistema cambial argentino, que permite oscilações diárias com variações de até 50 centavos por oferta, forçou o BC argentino a arredondar a cotação, o que na prática significa que o teto operacional ficou em 1.475 pesos.

A nova intervenção marca um recuo na política do presidente Javier Milei, que havia prometido liberalizar o câmbio argentino como parte de seu acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), assinado em abril.

Desde então, o país vinha adotando uma banda cambial com expansão mensal de 1% e evitando vender reservas no mercado à vista. Até agora, o governo usava instrumentos indiretos, como operações no mercado futuro e medidas sobre os depósitos compulsórios dos bancos.

Com as reservas líquidas estimadas em apenas US$ 6 bilhões, a estratégia do governo começa a ser posta em xeque. Ao mesmo tempo, os mercados reagiram negativamente: o risco-país saltou para 1.337 pontos — o maior nível em um ano — e os títulos argentinos sofreram novas perdas.

A deterioração econômica também começa a afetar a governabilidade. A derrota de Milei na principal província do país é um sinal de que sua base política está sendo corroída. Além disso, o PIB (Produto Interno Bruto) argentino recuou 0,1% no último trimestre, aprofundando o pessimismo sobre a capacidade do governo de sustentar a recuperação.

“Milei aprofunda crise social na Argentina”, avalia Deborah Magagna

A economista Deborah Magagna, apresentadora do ICL Mercado e Investimentos, comentou na edição de ontem (18) do programa que a política econômica de Milei, embora inicialmente celebrada por setores do mercado e da imprensa brasileira, está aprofundando a crise social no país vizinho.

“O Milei deu um remédio tão forte que matou o paciente”, disse Magagna. “A inflação caiu, sim, mas porque não há mais demanda. A atividade econômica desabou. É como cortar a cabeça de alguém para curar a dor de cabeça — o problema desaparece, mas com ele, o paciente também.”

Segundo ela, o discurso de ajuste fiscal como solução mágica para os problemas econômicos ignora as consequências humanas e estruturais. “Esses cortes que foram tão comemorados aqui no Brasil estão levando os argentinos à pobreza. Temos mais desemprego, subutilização da força de trabalho e informalidade crescendo”, pontua.

Magagna também criticou a cobertura da imprensa brasileira, que, segundo ela, muitas vezes pinta Milei como exemplo de coragem e eficiência econômica, sem considerar o custo social.

“A gente viu uma exaltação do Milei, principalmente aqui no Brasil. Mas agora os dados mostram que a economia está indo pro ralo. A fada da confiança não veio”, ironizou.

Tarcísio, o “Milei à brasileira”

A economista também fez um alerta sobre os paralelos traçados entre a política econômica de Javier Milei e a agenda de alguns nomes no Brasil — em especial, o governador de São Paulo, o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), frequentemente apontado como possível presidenciável em 2026.

“Estão tentando construir aqui o ‘Milei à brasileira’. E o nome da vez é Tarcísio”, afirmou. “A mesma cartilha: ajuste fiscal duro, corte de direitos sociais e promessa de que a tal ‘fada da confiança’ vai resolver tudo. Mas, assim como na Argentina, a conta social é alta e a confiança mágica nunca chega.”

Magagna ironizou a comparação, afirmando que há um padrão cíclico na forma como certos economistas e figuras liberais ganham espaço no debate público sempre que se aproxima um ciclo eleitoral.

“É sempre a mesma história. Congelam o Armínio Fraga no freezer e descongelam perto das eleições para defender corte no salário mínimo, na aposentadoria, nas políticas públicas. Agora estão preparando o palco para 2026 e, pasmem, Tarcísio já aparece como alternativa”, frisou.

Veja o comentário completo de Deborah Magagna no vídeo abaixo:

você pode gostar