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A entrada em vigor, em agosto, de uma sobretaxa de 50% sobre a carne bovina brasileira exportada aos Estados Unidos ainda não trouxe clareza sobre os impactos para o setor. Segundo o presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), Roberto Perosa, os efeitos da medida deverão ser sentidos com mais precisão a partir de setembro, que será, segundo ele, um “teste para o apetite dos americanos” pelo produto nacional.
Apesar da medida protecionista adotada pelos EUA, Perosa projeta um cenário otimista para as exportações brasileiras de carne bovina em 2025: alta de 12% no volume embarcado e de 14% no valor total das vendas externas, em comparação com 2024. A avaliação foi feita na terça-feira (9), em entrevista coletiva realizada em Brasília.
“O mês de setembro será um teste para o apetite dos americanos pela carne brasileira. A sobretaxa entrou em vigor no mês passado e somente agora podemos ter algo mais claro a respeito “, afirmou o executivo.
Novos mercados para a carne brasileira
De janeiro a agosto deste ano, o Brasil exportou US$ 1,22 bilhão em carne bovina aos EUA — um aumento expressivo de 68,9% em relação ao mesmo período de 2024. Em volume, o crescimento foi de 71,5%, totalizando 209 mil toneladas.
Mesmo com esse desempenho, a aplicação da tarifa empurrou os EUA da segunda para a oitava posição entre os principais destinos do produto brasileiro, superados por mercados como China, Rússia, México, Chile, União Europeia, Filipinas e Egito.
No total, as exportações de carne bovina brasileira a 164 países somaram US$ 10,5 bilhões nos primeiros oito meses do ano, com crescimento de 32,9% em valor e 15% em volume — um indicativo da forte demanda global, mesmo diante de tensões comerciais.
Somente em agosto, mês em que começaram a valer as sobretaxas impostas pelo governo de Donald Trump, as exportações brasileiras de carne bovina somaram 299.449 toneladas, crescimento de 20,7% em relação ao mesmo mês de 2024 (248.033 t). Foi o segundo maior volume mensal da série histórica, ficando atrás apenas de julho deste ano, quando o Brasil embarcou 313,6 mil toneladas. A receita alcançou US$ 1,60 bilhão, alta de 49,8% frente aos US$ 1,07 bilhão registrados no ano anterior.
Os dados são do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) e foram compilados pela Abiec, que reúne 46 empresas responsáveis por 98% da carne bovina exportada pelo Brasil.
China desponta
A China manteve a liderança das compras em agosto, com 161,0 mil toneladas (53,7% do total), gerando US$ 894 milhões, aumento de 48,1% frente a agosto de 2024. Rússia (14,2 mil t; US$ 65 milhões), México (13,3 mil t; US$ 75,4 milhões), Chile (12 mil t; US$ 67,6 milhões) e União Europeia (11,2 mil t; US$ 93,2 milhões) completaram os cinco principais destinos.
Os Estados Unidos registraram retração significativa em agosto, com 9,3 mil toneladas embarcadas (US$ 64,4 milhões), queda de 51,1% em relação a agosto de 2024 (19,1 mil t). Apesar da desaceleração, o país permanece como o segundo principal destino no acumulado do ano.
Esse reposicionamento do Brasil explica parte do otimismo da Abiec. Com a Austrália aumentando suas vendas para os Estados Unidos, países asiáticos antes atendidos pelos australianos se tornam alvos estratégicos para os exportadores brasileiros.
Além disso, a abertura de novos mercados reforça a confiança da entidade. Indonésia, Malásia, Filipinas e Japão estão entre os países que já compram ou estão prestes a iniciar importações de carne bovina do Brasil. A expectativa é de que o avanço diplomático com o Japão ganhe força até a realização da COP30, prevista para ocorrer em Belém (PA) em 2025.
EUA seguem como mercado estratégico
Apesar da queda na posição dos EUA no ranking de importadores, a Abiec segue tratando o mercado norte-americano como prioritário. Para Perosa, além de rentável, trata-se de um destino com demanda constante por carne bovina — e que precisa ser reconquistado.
A entidade tem cobrado do governo federal a intensificação das negociações com Washington, com o objetivo de mitigar os efeitos da sobretaxa e garantir o retorno do produto brasileiro ao mercado norte-americano em condições mais competitivas.
“Temos reiterado ao governo brasileiro que continue as negociações. Esse resultado pode ser decisivo para o desempenho do setor”, frisou.