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Mamografias pelo SUS alcançam menos de 40% das mulheres de 50 a 69 anos

por Felipe Rabioglio
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Por Laiz Menzes

(Folhapress) – O SUS (Sistema Único de Saúde) realizou, de janeiro a agosto de 2025, mamografias suficientes para atender apenas 20% das mulheres de 50 a 69 anos, faixa etária recomendada para o rastreamento do câncer de mama. Em 2024, foram feitos 37% dos exames necessários para garantir o rastreio.

O levantamento utilizou a razão de mamografias, indicador que compara o número de exames realizados com metade da população feminina de 50 a 69 anos, já que o rastreio é recomendado a cada dois anos.

Segundo Wallace Casaca, pesquisador da Unesp (Universidade Estadual Paulista), se o SUS atingisse 100% desse público, ou algo perto disso, seria possível garantir a cobertura dentro do intervalo ideal.

A análise foi realizada pela Lifeshub, startup brasileira de inteligência de dados, com base em números do do Siscan (Sistema de Informações do Câncer), vinculado ao Ministério da Saúde, além de dados do IBGE e da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).

Entre janeiro e agosto de 2025, a razão ficou muito abaixo do ideal de 100%, com destaque negativo para os estados do Norte, Roraima realizou apenas 5% das mamografias necessárias, seguido por Tocantins (8%) e Pará (9%).

O câncer de mama é o mais comum e o que mais mata mulheres (Foto: José Cruz / Agência Brasil)

Mamografias no SUS

O Ministério da Saúde afirma que o SUS realizou 3.9 milhões de exames de mamografia bilateral de rastreamento em 2024, com 3.305 mamógrafos em uso em todo o país, segundo o Cnes (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), número que, segundo a pasta, supera a necessidade estimada para atender a população feminina na faixa etária-alvo.

O levantamento também mostra que, em 2024, o número de exames feitos representava 28% do público-alvo nacional. Entre as usuárias do SUS, o percentual sobe para 37%, com grande variação regional: estados do Sul e Sudeste alcançaram mais de 50%, como Paraná, Santa Catarina e São Paulo, enquanto o Norte e parte do Nordeste ficaram abaixo de 30%.

Entre as usuárias de planos de saúde, a cobertura é bem maior: foram realizadas 73% das mamografias necessárias para o público-alvo no ano passado. Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul novamente se destacam, com mais de 80% das mulheres rastreadas, enquanto Amazonas, Goiás e Roraima registraram os piores índices, com menos de 50%.

Nas unidades da federação com implantação do Siscan inferior a 90% dos serviços de mamografia em 2024 (Amapá, Piauí, São Paulo e Rio Grande do Sul), e em 2023 (Amapá, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul), os dados utilizados para o cálculo da razão de mamografias podem estar subestimados, uma vez que nem todos os exames realizados são registrados no sistema.

Apesar dessa limitação, os dados do Siscan ainda são considerados referência para análises de tendência em nível nacional, segundo Casaca. “O indicador utilizado permite avaliar se o sistema consegue garantir a cobertura bianual recomendada”, diz.

O câncer de mama é o mais comum e o que mais mata mulheres. Neste triênio (2023-2025), cerca de 73.610 mulheres poderão receber o diagnóstico da doença, segundo estimativa do Inca (Instituto Nacional de Câncer).

O baixo alcance do rastreio contribui para diagnósticos tardios. O Inca aponta que cerca de 40% das mulheres que receberam diagnóstico de câncer de mama entre 2018 e 2022 já tinham doença localmente avançada ou metastática.

Especialistas

Ademar Paes Júnior, radiologista e CEO da Lifeshub, afirma que o diagnóstico precoce do câncer de mama aumenta significativamente as chances de cura e, ao mesmo tempo, reduz os custos para o SUS, uma vez que os tratamentos iniciados cedo são menos complexos, mais eficazes e resultam em menor tempo de internação.

A pesquisa da LifesHub também analisou a cobertura populacional efetiva, ou seja, o percentual de mulheres que de fato realizaram mamografia. Segundo os dados, cerca de 14% das mulheres do público-alvo fizeram o exame em 2024, proporção semelhante à observada nos primeiros meses de 2025 (13,9%).

Dados do Inca mostram que a cobertura do rastreamento mamográfico no SUS foi de apenas 24,2% no biênio 2023-2024. O cálculo considerou apenas os estados com mais de 90% de implantação do Siscan.

Entre os estados avaliados, Roraima apresentou a menor cobertura, com 5,3%, e o Espírito Santo teve o melhor desempenho, com 33,6%. Nenhuma unidade da federação ultrapassou 35%. A região Norte concentrou a maior parte dos estados com menos de 20% de cobertura.

Maira Caleffi, mastologista e fundadora da Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama), diz que a baixa cobertura pode acontecer por dificuldade de acesso, horários de atendimento incompatíveis com a rotina de trabalho, falta de incentivo das empresas e barreiras culturais, como a priorização da família em detrimento da própria saúde.

A médica defende um programa estruturado, com busca ativa e integração digital, em que mulheres sejam convocadas para exames de rotina e o resultado seja enviado diretamente ao posto de saúde.

“Se tivermos um sistema confiável e um programa nacional robusto, poderemos reduzir significativamente a mortalidade pelo câncer de mama no Brasil”, afirma.

Segundo Angélica Nogueira, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), no programa de rastreio de câncer de mama do Brasil, a mulher precisa procurar o exame por iniciativa própria. Em um rastreio organizado, ela afirma que o sistema de saúde poderia monitorar intervalos adequados e acionar alertas quando a paciente estivesse em atraso.

“A falta desse modelo estruturado, combinada com desafios geográficos, especialmente na região Norte, e desigualdade de acesso aos serviços, mantém o país abaixo das metas recomendadas internacionalmente.”

Em setembro, o Ministério da Saúde anunciou a ampliação do acesso à mamografia pelo SUS: mulheres de 40 a 49 anos, mesmo sem sintomas, poderão realizar o exame preventivo. A pasta também estendeu o rastreamento sistemático do câncer de mama, que passou a abranger mulheres de 50 a 74 anos, antes, o limite era 69.

O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde.

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