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Lula e Trump podem se encontrar na Malásia

por Adriana Cardoso
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Autoridades brasileiras e norte-americanas abriram canais de diálogo para preparar um possível encontro entre os presidentes Lula e Donald Trump. A reunião pode ocorrer à margem da cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), em Kuala Lumpur, na Malásia, no próximo dia 25 de outubro. A possibilidade de uma videoconferência entre os dois líderes antes da reunião presencial também está sendo considerada como etapa preparatória.

Caso se concretize, será o primeiro encontro bilateral significativo entre Lula e Trump desde a posse do republicano em seu novo mandato, em janeiro deste ano. A reunião representaria não apenas um gesto diplomático, mas também uma tentativa de reequilibrar a relação após a imposição de tarifas de 50% por parte dos EUA sobre setores estratégicos da economia brasileira em julho.

Nos bastidores, no entanto, o cenário é mais complexo do que o protocolo sugere. Trump tem sinalizado interesse em incluir na pauta o caso do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.

Segundo fontes do governo brasileiro, Lula resiste à ideia de tratar temas internos nesse tipo de diálogo e pretende manter o foco em questões estritamente bilaterais e econômicas.

Durante a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York, Lula criticou abertamente o uso de sanções unilaterais e o intervencionismo como instrumentos de política externa. Ainda assim, em um gesto diplomático calculado, acenou à possibilidade de um diálogo mais estruturado com Washington.

Na segunda-feira (29), Lula afirmou que, quando for conversar com Trump, pretende levar a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja. Ela, por sua vez, brincou ao fazer o sinal negativo com a mão.

“Eu brinco muito com a Janjinha dizendo para ela que a Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura] já deu uns 10 prêmios para ela de mulher mais bem casada do planeta Terra. E quando eu for conversar com [Donald] Trump, eu vou levar ela. Eu quero ele veja”, afirmou o presidente.

Governo Lula quer colocar economia no centro da pauta

O Palácio do Planalto trabalha para que eventuais conversas com Trump priorizem temas como minerais críticos, energias renováveis — especialmente o etanol —, a instalação de data centers no Brasil e parcerias tecnológicas. A avaliação no Itamaraty é que esses pontos podem servir como áreas de convergência entre os dois países, mesmo diante de um contexto político conturbado.

Há também preocupação com a forma e o local do eventual encontro. O Itamaraty desaconselha uma reunião presencial na Casa Branca ou na residência de Trump, em Mar-a-Lago, por receio de que o gesto simbólico se sobreponha aos resultados concretos. Por isso, diplomatas defendem que uma conversa virtual ocorra antes, para calibrar expectativas e construir terreno comum.

Outro fator que influencia a negociação é a postura do setor privado norte-americano. Empresários brasileiros têm buscado seus pares nos EUA para interceder pela redução de tarifas e corrigir percepções distorcidas sobre a política interna brasileira. Relatórios e pesquisas recentes, que apontam que o apoio popular a Bolsonaro é menor do que se imaginava em Washington, têm começado a circular entre assessores de Trump, o que pode suavizar resistências.

Venezuela

Enquanto isso, cresce a preocupação com a possibilidade de uma nova intervenção militar americana na Venezuela. Embora o tema esteja no radar de Washington, o governo brasileiro pretende evitá-lo nas conversas bilaterais, mantendo o foco em pautas econômicas e ambientais.

Com a confirmação da presença de Lula na cúpula da Asean e a possível participação de Trump, Kuala Lumpur pode se tornar palco do primeiro passo para uma reaproximação pragmática entre Brasil e Estados Unidos.

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