O presidente Lula brilhou na ONU. E brilhou como só ele sabe brilhar, tocando nas questões sensíveis sem medo e se pondo, no ambiente global, como consciência moral do mundo. Lula aproveita de modo consequente o vazio moral do Ocidente, com a ascensão do fascismo nos EUA e o apoio ao calvário e genocídio desumano dos palestinos. Só muito recentemente vieram Inglaterra e Franca a apoiar o Estado palestino. A Alemanha, vítima eterna da culpa do Holocausto, como querem os sionistas, ainda não.
É nesse vazio moral e político que Lula atua. Só os tolos não compreendem a importância da moralidade como força política. Os tolos pensam no dinheiro e na força militar como armas invencíveis e se esquecem que sem legitimação moral todo poder é vazio e de curta duração. Nesse sentido, Trump só acelera o declínio americano no mundo. Ninguém, jamais na história, construiu um império baseado exclusivamente na violência que tenha tido qualquer continuidade significativa no tempo.
Todo domínio, para ter continuidade temporal, tem que ser considerado legítimo, em alguma medida pelo menos, pelos próprios oprimidos pela ordem dominante. Foi, por exemplo, surfando no prestígio do segundo pós-guerra, tendo defendido a “liberdade” contra os nazistas — como repetiu Hollywood por tanto tempo até que o sacrifício soviético fosse apagado do mapa — que os Estados Unidos ganharam supremacia cultural, moral e política no planeta inteiro.
Foi por conta dessa influência cultural avassaladora que países colonizados econômica e culturalmente pelos Estado Unidos, como o Brasil, o mais perfeito servo dos americanos — que entrega a riqueza e o patrimônio público em bandeja de prata aos “americanos honestos” se acreditando corrupto e desonesto como quer a propaganda americana — que nunca pode se desenvolver e ter indústrias para cumprir melhor seu papel de exportador de matéria prima barata.
O capitalismo financeiro americano é o mais corrupto do globo, já que baseado em paraísos fiscais — que só existem porque os EUA assim o querem — que possibilitam evasão planetária de impostos e não distinguem dinheiro ilegal e legal, além de empobrecer todo mundo em favor de meia dúzia. E todos os subterfúgios como o “politicamente correto” e a ascensão meritocrática de minorias, já não produzem mais resultados a não ser os próprios ressentidos dessas políticas inclusivas para “inglês ver”. A isso se acrescente o apequenamento da Europa que desistiu de ter qualquer voz própria independente dos EUA.
Este é o vazio moral que permite que Lula, presidente de um país periférico e colonizado do Sul global, possa corporificar a consciência de humanidade da comunidade global. E nada simboliza melhor a quadra histórica que vivemos do que o mais covarde de todos os genocídios contemporâneos protagonizados, agora, pelos que se vêm como “vítimas eternas”, mesmo quando massacrando, exatamente do mesmo modo que os nazistas fizeram com os judeus, mulheres e crianças indefesas.
Lula não teve medo de tocar nestas questões delicadas e sensíveis. Foi corajoso e lúcido como outros líderes terceiromundistas haviam sido antes dele como Fidel Castro e Nelson Mandela. E isso só acontece quando um líder desvela as mentiras cuidadosamente mantida pelos que dominam e, ao revelar a verdade, provocar o renascimento da indignação moral, que estava adormecida. Lula e o Brasil tiveram um grande dia na ONU.