Em tom moderado, o presidente Lula (PT) voltou a criticar a política de juros do Banco Central (BC), após a decisão da instituição de manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano — o maior patamar em quase duas décadas. Em entrevista à TV Liberal, do Pará, nesta sexta-feira (3), o petista afirmou que o país enfrenta um “problema” com os juros altos e defendeu que inflação controlada e taxas mais baixas são essenciais para o crescimento econômico.
“Nós temos um problema com a taxa de juros que está alta. E nós vamos ter que cuidar para que ela baixe um pouco mais, porque a gente precisa ter consciência de que inflação baixa e juro baixo significam crescimento, geração de emprego, melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro — e disso eu não abro mão”, declarou o presidente.
A Selic está em 15% desde junho e, segundo o Copom (Comitê de Política Monetária), deve permanecer nesse patamar por um “período bastante prolongado”. A justificativa do comitê, expressa na última ata, inclui incertezas no cenário internacional e inflação ainda acima da meta.
Lula indicou atual presidente do BC
Apesar de o atual presidente do BC, Gabriel Galípolo, ser uma indicação de Lula — ao contrário de Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro —, a política de juros tem se mantido inalterada.
A composição do Copom, que inclui o presidente do Banco Central e oito diretores, agora conta com maioria de nomes indicados pelo atual governo. Ainda assim, a orientação segue conservadora diante do cenário macroeconômico.
A última decisão do Copom considerou que, embora haja desaceleração na atividade econômica, o mercado de trabalho segue aquecido, o que, em sua avaliação, contribui para manter as pressões inflacionárias.
Haddad também defende corte nos juros
Em entrevista exclusiva ao ICL Notícias 1ª edição em setembro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também criticou o atual patamar dos juros, dando a entender que o período de transição de Campos Neto para Gabriel Galípolo teria sido “anômalo”.
“Nós não estávamos numa situação normal, estávamos numa situação excepcional. Essa história vai ser contada no momento adequado, com os personagens dizendo o que aconteceu na transição”, disse.
Na ocasião, ele também afirmou que “há espaço” para a queda da Selic e que a taxa “nem deveria estar” no nível atual.
“Acredito que nem deveria estar em 15% [ao ano]. Ele [Gabriel Galípolo] tem os quatro anos de mandato dele, e ele vai entregar um resultado consistente ao Brasil”, disse Haddad.
A expectativa de analistas de mercado é de que a taxa básica seja mantida até o início de 2026, a menos que haja mudanças significativas no cenário inflacionário ou na condução da política monetária.