Por Cleber Lourenço
A ligação feita por Donald Trump ao presidente Lula na manhã desta segunda-feira (6) surpreendeu Brasília e criou desconforto entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. No Planalto, o gesto foi comemorado como um avanço diplomático e uma vitória simbólica para o governo, que vê a aproximação como um sinal de reposicionamento do Brasil no diálogo com Washington.
A nota oficial divulgada pelo governo brasileiro fez questão de destacar que Lula recebeu a ligação de Trump — e não o contrário. Para integrantes da diplomacia, o detalhe indica que a iniciativa partiu do presidente americano, um gesto interpretado como reconhecimento da liderança de Lula na região e da necessidade de reconstrução de pontes após distanciamento. Além disso isso reforça o interesse de Trump em voltar a fazer comércio com o Brasil.
Participaram da videoconferência o vice-presidente Geraldo Alckmin, os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Fernando Haddad (Fazenda), Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação Social) e o assessor especial Celso Amorim. O encontro é considerado preparatório para uma reunião presencial prevista para o fim de outubro.
Entre bolsonaristas, a reação foi imediata. Há preocupação sobre o quanto o gesto de Trump enfraquece a interlocução de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do comentarista Paulo Figueiredo com o entorno republicano. “A cada dia que passa, a ‘missão’ do Eduardo só fica pior”, disse um político do PL ouvido pela coluna.
Deputado Eduardo Bolsonaro (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
O incômodo cresce porque o governo associa à dupla a interferência que, em agosto, levou ao cancelamento de uma reunião do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com autoridades americanas. “A militância anti-diplomática dessas forças de extrema-direita que atuam junto à Casa Branca tomou conhecimento da minha fala e agiu junto a alguns assessores de Trump, e a reunião com Bessent foi desmarcada e ainda não foi remarcada. Informaram o cancelamento por e-mail”, relatou Haddad à GloboNews na ocasião.
Para o Planalto, o episódio desta segunda-feira foi mais do que um gesto diplomático: serviu para medir o real alcance da extrema-direita brasileira sobre o círculo político de Trump. A avaliação é que, desta vez, o bloqueio funcionou — e a conversa ocorreu sem interferências externas.