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Governo tenta barrar projeto que equipara facções criminosas a grupos terroristas

por Bia Abramo
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O Palácio do Planalto intensificou nesta segunda-feira (4) as articulações para adiar a votação, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, de um projeto que equipara facções criminosas a organizações terroristas.

A estratégia do governo é esvaziar a proposta e priorizar a tramitação do Projeto de Lei Antifacção, que cria um tipo penal específico para essas organizações, sem associá-las ao terrorismo. Ao mesmo tempo, o governo atua para garantir o controle da CPI do crime organizado, prevista para ser instalada nesta terça (4), a fim de evitar novo foco de desgaste político.

Durante toda a segunda-feira, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), entrou em contato com parlamentares da base para tentar barrar a sessão da CCJ. Segundo o governo, o PL Antifacção já contempla os principais pontos defendidos pela oposição e, junto à PEC da Segurança Pública, enviada em abril, fortalece o combate ao crime organizado.

Na prática, a proposta governista prevê punições severas, com penas mínimas até superiores às previstas na Lei Antiterrorismo, além de ampliar os instrumentos de investigação, como infiltração de agentes e uso de empresas de fachada.

A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)

Governo quer equilibrar forças na CPI do crime organizado

Aliados do presidente Lula argumentam que classificar facções como grupos terroristas poderia gerar efeitos colaterais, como intervenções estrangeiras e sanções econômicas. “É um absurdo pautar isso antes da lei antifacção. A pena mínima do nosso texto é maior que a do terrorismo. Que sentido há em vulnerabilizar nossa soberania e abrir espaço para agressões externas?”, criticou o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ).

O governo teme que o reconhecimento oficial de grupos terroristas no país gere restrições financeiras, como punições a bancos e fundos que operam em territórios associados ao terrorismo, além de elevar o custo de seguros e afastar investimentos.

Na CCJ, o relator da proposta é o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que já defendeu que o texto, se aprovado, siga ao plenário sob a condução do secretário de Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite (PP-SP), licenciado do cargo parlamentar.

O Planalto tenta impedir que o projeto governista seja “apensado” ao texto da oposição, o que permitiria a tramitação conjunta. Para os governistas, essa hipótese seria “inadmissível”.

No Senado, o governo também enfrenta dificuldades para equilibrar forças na CPI do crime organizado, proposta pelo senador Alessandro Vieira (MDB-SE). A comissão, autorizada por Davi Alcolumbre (União-AP), deve investigar a atuação de facções e milícias, em meio à repercussão da operação policial mais letal da história do Rio, que deixou 121 mortos.

A oposição tenta emplacar Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na presidência e usar a CPI como palanque político para reforçar o discurso de endurecimento penal. Para evitar nova derrota, como na CPI do INSS, dominada por independentes e oposicionistas, o PT articula o nome do senador Fabiano Contarato (ES) para presidir o colegiado. Delegado de Polícia Civil, ele tem bom trânsito inclusive com adversários.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), também deve integrar a comissão para atuar diretamente nas disputas com os senadores bolsonaristas.

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