O governo Lula vê na reaproximação com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, uma oportunidade concreta para discutir temas de interesse econômico bilateral, como o acesso dos EUA a minerais estratégicos no Brasil e a regulação das plataformas digitais.
O Brasil pode colocar esses itens na mesa se a conversa entre Lula e Trump, de fato, acontecer, após a sinalização positiva vinda de um breve e amistoso encontro entre os dois líderes na Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York. A expectativa, agora, é de que os dois presidentes tenham uma reunião — presencial ou virtual — nos próximos dias.
Embora a aproximação seja bem-vista por setores do governo e da indústria, autoridades brasileiras descartam qualquer possibilidade de ceder a pressões políticas americanas.
A principal linha vermelha envolve o Judiciário: qualquer pedido para intervir nos processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no STF (Supremo Tribunal Federal), condenado por tentativa de golpe, é considerado inaceitável.
Haddad diz que Lula e Trump vão “falar de coisas que realmente importam”
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que Lula e Trump devem iniciar conversas centradas na integração econômica e em investimentos mútuos. Em tom de ironia, Haddad brincou: “Agora, parece que o ‘companheiro’ Trump gostou do ‘companheiro’ Lula, e vão começar a conversar, falar de coisas que realmente importam”, disse o ministro da Fazenda, reforçando que o diálogo deve separar política de economia.
Haddad lembrou que tratativas anteriores envolviam energia limpa, biocombustíveis e minerais críticos — setores considerados chave para a reindustrialização verde do Brasil.
O ministro também defendeu a reversão do tarifaço de 50% imposto por Trump a produtos brasileiros, alegando que “há um processo de negociação” e que essa decisão precisa ser revista.
Big techs
Nos bastidores, o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) trabalha com a hipótese de que Trump pressione contra a regulação das big techs, alinhando-se aos interesses das plataformas digitais em limitar moderação de conteúdo.
O governo Lula, que recentemente recuou de enviar ao Congresso um projeto mais rígido de regulação, optou por um texto focado em regras econômicas, diante da resistência política no Legislativo.
O gesto de Trump na véspera na ONU contrasta com o clima de tensão instalado desde julho, quando ele impôs tarifas e criticou duramente o Judiciário brasileiro, acusando-o de perseguição a aliados políticos.
Em Nova York, porém, o presidente dos EUA mudou o tom, disse ter tido “química excelente” com Lula e declarou que “só faz negócios com quem gosta”.
No setor privado, a possível retomada do diálogo é vista com cautela e expectativa. Interlocutores da indústria admitem otimismo com a agenda comercial, mas temem exigências americanas que possam ser “desvantajosas ou absurdas” para o Brasil.