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Governo Lula envia ministros ao RJ e não descarta intervenção após 64 mortes

por Schirlei Alves
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Por Cleber Lourenço

O governo federal deve intervir politicamente na crise da segurança pública do Rio de Janeiro após a operação policial que deixou 64 mortos, incluindo quatro policiais, nos complexos do Alemão e da Penha.

A medida foi definida em uma reunião de emergência no Palácio do Planalto, no fim da tarde desta terça-feira, com participação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, do ministro da Casa Civil, Rui Costa, e do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.

Após o encontro, ficou acertado que Lewandowski e Rui Costa viajam ao Rio nesta quarta-feira (29) para se reunir com o governador Cláudio Castro e integrantes da cúpula da segurança estadual. É provável que eles estejam acompanhados do diretor-executivo da Polícia Federal, William Marcel Murad, que será o responsável pela articulação técnica entre as forças federais e estaduais.

Durante a reunião, o governo do Rio deverá solicitar a transferência de dez presos considerados de alta periculosidade para presídios federais, pedido que foi imediatamente aceito pelo Planalto.

Segundo integrantes da articulação política, nem o governo federal, nem a Polícia Federal foram informados previamente da operação, o que teria gerado desconforto e surpresa no Planalto. Entre auxiliares de Lula, cresce a percepção de que a ação foi mal planejada e possivelmente decidida de última hora pelo governo fluminense.

Após megaoperação policial, CV ordena fechamento de comércio e usa lixeiras incendiadas para bloquear vias – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Governo federal não descarta intervenção

Integrantes do governo afirmam que não está descartada uma nova intervenção federal, semelhante à de 2018, mas com comando civil e sem presença militar. Segundo uma fonte ouvida pela reportagem, “isso só pode ser definido a partir de conversa com o presidente. Não está descartado, mas não está entre as prioridades”.

O tema, porém, ganhou espaço nas discussões internas após o aumento da pressão política e social diante da escalada da violência. A reunião marcada para esta quarta-feira entre os ministros e o governador Cláudio Castro, será determinante para a definição da estratégia federal.

Outro ponto considerado essencial é o retorno de Lula ao Brasil, após viagem oficial pela Ásia. O presidente deve ser informado pessoalmente sobre a situação e as medidas em estudo. Segundo integrantes do governo, a definição dos próximos passos dependerá diretamente desses dois momentos: o encontro entre ministros e o governador, e a conversa de Lula com sua equipe de segurança e articulação política.

No Planalto, a avaliação é de que a atual crise na segurança pública do Rio exige uma resposta institucional coordenada, capaz de redefinir o papel do governo federal no apoio aos estados. Ainda que uma intervenção não esteja no horizonte imediato, há consenso de que o episódio expôs os limites do modelo atual de cooperação.

Governo estadual omite mortes de policiais

O governo do Rio de Janeiro divulgou nesta terça-feira (28) uma nota oficial sobre a megaoperação na qual não menciona a morte dos quatro policiais durante os confrontos. O texto destaca as 81 prisões e a apreensão de 93 fuzis.

A omissão chama ainda mais atenção porque o comunicado detalha o uso de câmeras corporais, ambulâncias de resgate, helicópteros, drones e blindados. Apesar disso, o texto ignora completamente o custo humano da operação, inclusive entre as forças de segurança.

Segundo fontes da segurança pública, os confrontos ocorreram principalmente em áreas de mata, onde 60 suspeitos foram mortos. O governo estadual atribui as mortes à reação armada de criminosos, mas não apresentou dados sobre perícia, identificação das vítimas ou cadeia de custódia das armas apreendidas.

Na nota, o governador Cláudio Castro é citado três vezes e reforça o discurso de enfrentamento:

“Estamos enfrentando o crime com rigor, dentro da lei”.

A comunicação oficial tenta projetar controle e autoridade, mas evita qualquer referência a possíveis falhas operacionais que possam ter contribuído para as mortes de policiais e suspeitos.

Crise na segurança pública

A operação, anunciada pelo governo Cláudio Castro como a maior da história do estado, mobilizou cerca de 2.500 agentes e teria como objetivo prender lideranças do Comando Vermelho. No entanto, o número de mortos transformou o episódio em uma crise política nacional, com questionamentos sobre excesso de letalidade e violação de direitos humanos.

A comitiva é vista dentro do governo como fundamental para avaliar como o Planalto poderá ajudar o estado e até mesmo o grau de necessidade de uma intervenção direta na situação. A expectativa é que, após a reunião, ocorra uma coletiva conjunta dos ministros ao lado do governador Cláudio Castro, em tentativa de sinalizar cooperação institucional.

A viagem dos ministros tem como foco restabelecer o diálogo institucional e garantir que o governo federal mostre que está no controle da situação.

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