Por Cleber Lourenço
O Palácio do Planalto consolidou um posicionamento firme para conduzir a votação da isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil: o benefício só será realidade se vier acompanhado das medidas compensatórias. A lógica apresentada pelo governo é direta — sem novas fontes de arrecadação, não há como cumprir o arcabouço fiscal, e a proposta perde validade. Essa mensagem vem sendo repetida em reuniões de líderes, entrevistas e documentos oficiais, de forma a tornar cristalina a vinculação entre a isenção e a sustentabilidade das contas públicas.
O discurso oficial tem clareza em dois pontos. De um lado, mostra que o governo está comprometido com o alívio tributário para a população de renda mais baixa, um grupo que historicamente é o mais penalizado pela cobrança do imposto de renda em faixas pouco ajustadas à realidade econômica. De outro, deixa evidente que esse avanço não pode ser feito à custa da responsabilidade fiscal. Assim, quem tentar enfraquecer ou barrar as compensações assume o ônus de travar uma medida de amplo alcance social, cujo impacto positivo seria sentido em milhões de lares.
O Planalto reforça que não se trata de uma disputa retórica, mas de um cálculo técnico. Ao atrelar a isenção ao equilíbrio do arcabouço, o governo desloca a discussão para o terreno da contabilidade pública: trata-se de uma conta matemática, não de vontade política. Esse enquadramento assegura que a proposta seja percebida como séria, responsável e estruturada, afastando a possibilidade de promessas sem sustentação. Na prática, o governo busca blindar a medida contra interpretações de que seria apenas uma aposta populista ou uma manobra eleitoral.
Entre os principais pontos, a base aliada ressalta três pilares fundamentais. Primeiro, a inversão do custo político: antes, havia pressão sobre o governo para aprovar a isenção; agora, a responsabilidade recai sobre aqueles que resistem às compensações, transformando-os em responsáveis por eventual inviabilização da medida. Segundo, a legitimidade técnica: usar o arcabouço como cláusula de responsabilidade dá ao posicionamento aparência de neutralidade e respeito às regras estabelecidas pelo próprio Congresso. Terceiro, a urgência de manter isenção e compensações como pacote único, o que dificulta manobras regimentais ou tentativas de separar o benefício popular da parte que garante equilíbrio fiscal.
Planalto enfatiza que medida popular só se sustenta com responsabilidade fiscal e coloca Centrão e bolsonarismo diante da escolha: apoiar compensações ou inviabilizar o benefício
Nos bastidores, ministros e líderes governistas sublinham que a articulação política está orientada para reforçar esses pontos em todas as frentes. A ordem é mostrar à sociedade que a defesa das compensações não é aumento de impostos indiscriminado, mas sim a correção de distorções históricas que privilegiaram grandes fortunas, fundos exclusivos e patrimônios ocultos em offshores. Dessa forma, o governo busca mostrar que a conta da isenção será paga por quem pode contribuir mais, preservando o equilíbrio das finanças e beneficiando diretamente a maioria da população.
Na visão do Planalto, o caminho é inequívoco: sem as compensações, a isenção perde sustentação. Ao adotar esse discurso, o governo não apenas defende a viabilidade da proposta, mas também destaca quem está de fato ao lado da população de renda mais baixa e quem prefere proteger privilégios de grandes fortunas. Essa divisão de posições cria um contraste claro entre responsabilidade fiscal com justiça social e a tentativa de manter intocado o espaço dos super ricos.
O cálculo é simples e transparente: apoiar as compensações significa viabilizar um benefício histórico, que ampliará a justiça tributária e reduzirá o peso sobre os assalariados. Resistir a elas é assumir o desgaste político de impedir a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda, um gesto que dificilmente encontrará respaldo entre os eleitores em ano de alta pressão sobre o Congresso. Com isso, o governo reforça que sua proposta não é apenas popular, mas também responsável, e que quem votar contra as compensações assumirá a responsabilidade de negar à população um avanço concreto em matéria de justiça fiscal.