Casa EconomiaGalípolo vê economia resiliente ‘por todos os lados’ e aponta desafios da meta de inflação

Galípolo vê economia resiliente ‘por todos os lados’ e aponta desafios da meta de inflação

por Adriana Cardoso
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Durante o evento Macro Vision, promovido pelo Itaú BBA em São Paulo nesta segunda-feira (29), o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou que a economia brasileira segue surpreendentemente resiliente, mesmo com a taxa básica de juros (Selic) mantida em 15% ao ano — o maior nível desde 2006. Segundo ele, há uma incompatibilidade entre o atual nível de atividade, especialmente no setor de serviços, e a trajetória necessária para alcançar a meta de inflação de 3%.

“Por onde você olha, encontra indícios de uma economia resiliente”, afirmou Galípolo. “O Banco Central vai consumir esses dados e ver como será possível convergir a inflação para a meta”.

Um dos principais destaques do cenário econômico atual, segundo Galípolo, é o vigor do mercado de trabalho. Galípolo chegou a classificar o momento como o melhor dos últimos 30 anos, destacando fatores estruturais — como reformas trabalhistas — e conjunturais — como estímulos à demanda — que sustentam o dinamismo.

“O mercado de trabalho vem demonstrando uma resiliência grande. Isso significa que talvez seja necessário conviver com uma dose maior do remédio por mais tempo”, disse, referindo-se à manutenção dos juros em patamar elevado.

“Ainda há muito esforço a ser feito. O BC continuará vigilante, sereno e persistente. Não há atalhos para alcançar a meta de inflação”, enfatizou.

Galípolo vê inflação desancorada e vigilância redobrada

O presidente do BC reconheceu que a inflação corrente segue acima da meta, e que as expectativas futuras continuam desancoradas, o que exige cautela por parte da autoridade monetária. Ele também reforçou que o BC não se guia por uma única variável para definir sua política, mas por um conjunto de dados que incluem atividade, câmbio, preços e projeções do mercado.

“O BC jamais disse que 15% não é uma taxa alta, especialmente em comparação com outros países. Mas nossa missão legal é levar a inflação à meta de 3%, não à média dos emergentes”, frisou.

Boletim Focus e Firmus

Em resposta a críticas sobre a representatividade do Boletim Focus, Galípolo apresentou a pesquisa Firmus, que visa ampliar o alcance da coleta de expectativas econômicas, incluindo empresas não financeiras. A ideia é captar as percepções do chamado “setor real”, complementando os dados colhidos junto a instituições financeiras.

“O Focus não ouve apenas bancos, mas é importante termos também um canal formal com o setor produtivo. Isso enriquece o entendimento do cenário econômico”, explicou.

O levantamento Firmus, cuja fase piloto foi encerrada em agosto, será realizado trimestralmente e revelou projeções próximas às do Focus: IPCA de 4,5% em 2026 e 4% em 2027, com crescimento do PIB estimado em 2,1% para 2025.

“A gente tem ali um grupo menor de bancos, um grupo maior de assets [gestoras], tem ali pesquisadores, fundos de previdência, tem outros participantes, federações… mas era muito importante que a gente pudesse ter também essa interlocução e esse canal institucional, canal formal, para a gente poder ouvir aquilo que a gente costuma chamar do setor real da economia”, disse, falando sobre a pesquisa Firmus.

Trajetória da Selic: manutenção até 2026?

Na mais recente reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o BC decidiu manter a Selic em 15% ao ano — uma decisão unânime da diretoria. A sinalização é clara: a taxa deverá permanecer nesse nível por um período prolongado, possivelmente até 2026, dada a necessidade de perseverança na luta contra a inflação.

Diante de um cenário complexo e repleto de incertezas — como a política econômica global e seus efeitos indiretos sobre o Brasil —, Galípolo reiterou que não há soluções fáceis. A autoridade monetária continuará a agir com serenidade e responsabilidade, independentemente da pressão política ou da comparação com outros países.

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