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Por Maria Clara Alcântara — A conversa foi aberta por Heloisa Villela e Fábio Pannunzio, que ressaltaram a importância de existirem espaços como o ICL, onde é possível falar livremente, com respeito e diversidade de ideias.
“É uma realização profissional imensa,e pessoal também, fazer jornalismo desse jeito e tentar fazer a diferença no meu país”, ressaltou Heloisa.
Heloisa Villela e Fábio Pannunzio animaram a plateia. Créditos: ICL
Em seguida, subiram ao palco os convidados da roda: Eduardo Moreira, fundador do ICL e mediador do encontro; Frei Betto, frade dominicano e referência da Teologia da Libertação; e Aleida Guevara, médica e filha do revolucionário Che Guevara, que carrega e atualiza o legado do pai e de Fidel Castro.
Aleida Guevara: memória e continuidade
O painel começou com o relato emocionado de Aleida Guevara, que compartilhou histórias de sua infância e destacou o papel de sua mãe em sua criação, já que o pai, Che Guevara, dedicava-se intensamente à revolução.
“Meu pai viajava o mundo contando sobre a revolução cubana e trabalhava mais de 16 horas seguidas, mas sempre dava um jeito de ficar com a família”, lembrou.
Aldeia Guevara compartilhou um pouco das suas memórias com o pai. Créditos: ICL
Aleida contou ainda que, após a morte do pai, encontrou em Fidel Castro uma figura paterna, e destacou que se considera uma pessoa privilegiada por ter sido ensinada a amar o legado de Guevara. Em sua fala, também sublinhou a importância da educação e do papel das mulheres na revolução:
“Ser uma mulher revolucionária pode dar muita dor de cabeça, mas o importante é que, quando você encosta a cabeça no travesseiro, você dorme tranquila”, disse.
Frei Betto: evangelho e justiça social
Na sequência, Frei Betto ressaltou sua relação histórica com Cuba e com Aleida, lembrando o quanto o país precisa da solidariedade internacional diante do bloqueio imposto pelos Estados Unidos.
“Cuba, mais do que nunca, precisa de nossa solidariedade. É um país vulnerável e refém do bloqueio estadunidense”, declarou.
Frei Betto contou das suas experiencias em Cuba. Créditos: ICL
O religioso também frisou que muitas pessoas de fé têm posições progressistas e desempenham papéis fundamentais nas transformações sociais.
Participação da plateia
Um dos momentos mais intensos do painel veio da participação do público.
Tânia Anga Pataxó abriu a rodada de perguntas, falando de sua trajetória como mulher indígena, mãe e pesquisadora. Ela destacou a importância da ancestralidade na formação acadêmica e foi saudada pelos palestrantes como exemplo vivo de resistência.
Tânia Anga Pataxó aproveitou o painel para conversar com os palestrantes. créditos: ICL
Maurício, estudante de teologia, perguntou a Frei Betto sobre o enfraquecimento das Comunidades Eclesiais de Base e a ascensão do pentecostalismo no Brasil. O Frei explicou que a transformação da fé popular em mercado religioso é reflexo direto da desigualdade social e lembrou que as CEBs continuam sendo sementes importantes de organização comunitária.
Já Renata questionou Aleida Guevara sobre a militância juvenil em Cuba. Aleida destacou que a juventude é essencial para o futuro da revolução, mas sofre com a pressão e o assédio cada vez mais agressivo dos Estados Unidos:
“Precisamos trabalhar cada vez mais e chegar na fibra humana. Apesar de todos os problemas, o jovem educado em Cuba é privilegiado”, afirmou.
Na sequência, Denise perguntou sobre as formas concretas de solidariedade com Cuba. Frei Betto respondeu lembrando que o MST já enviou alimentos e apoio prático ao povo cubano, e reforçou que a solidariedade internacional não deve ser apenas discursiva, mas material.
Memória, fé e política
Eduardo Moreira mediou a roda de conversa. Créditos: ICL
O painel emocionou ao entrelaçar memória, fé e compromisso político. A grande lição deixada foi a de que a revolução não se aprende apenas nos livros, mas no testemunho dos que resistem e que ela só se mantém viva quando se atualiza nas lutas do presente.