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Desde a criação do MED (Mecanismo Especial de Devolução) pelo Banco Central, em 2021, para recuperar recursos transferidos por meio de fraudes no Pix, o sistema conseguiu devolver apenas 8,2% dos valores reclamados pelas vítimas, segundo reportagem do jornal O Globo. Entre novembro de 2021 e junho de 2025, foram feitos 11,2 milhões de pedidos de devolução, somando R$ 17,6 bilhões. Apenas R$ 1,4 bilhão foi efetivamente restituído.
O baixo índice de sucesso expõe limitações no processo atual, marcado por entraves operacionais, negativa frequente dos bancos e pela velocidade das transferências via Pix, que dificulta o bloqueio dos valores desviados.
O Mecanismo Especial de Devolução foi instituído pelo Banco Central como resposta ao aumento de golpes, fraudes e falhas operacionais envolvendo o Pix. Seu funcionamento depende da análise e validação de suspeitas por duas instituições financeiras envolvidas na transação — o banco da vítima e o do recebedor.
Pix: passo a passo atual do processo
- A vítima tem até 80 dias para contestar a transação junto ao seu banco;
- Caso a instituição entenda que há indícios de fraude, os valores na conta do recebedor são bloqueados;
- As duas instituições têm até 7 dias para analisar o caso;
- Confirmada a fraude, o valor pode ser devolvido em até 96 horas — total ou parcialmente, se houver saldo disponível na conta do fraudador;
- Caso contrário, os valores são desbloqueados.
Mesmo em casos em que há bloqueio parcial, o banco do fraudador pode fazer bloqueios sucessivos por até 90 dias, caso haja entrada de novos valores na conta.
Principais entraves do sistema
O baixo índice de recuperação de valores se deve a uma série de fatores operacionais e estruturais. Entre os principais problemas estão:
- Desconhecimento dos usuários sobre a existência do MED e como acioná-lo;
- Negativas rápidas por parte dos bancos, em alguns casos em poucos minutos, levantando dúvidas sobre a profundidade da análise;
- Alta taxa de rejeição: entre janeiro de 2022 e junho de 2025, apenas 11,4 milhões de casos (de um total de 27 milhões) foram considerados procedentes;
- Falta de saldo na conta do fraudador, o que inviabiliza a devolução mesmo com fraude comprovada;
- Velocidade do Pix, que permite a pulverização dos recursos em questão de segundos, impedindo o rastreio e bloqueio eficaz.
Mudanças previstas: “seguir o dinheiro”
A partir de 23 de novembro de 2025, o Banco Central promete uma atualização no MED que permitirá o rastreamento do “caminho do dinheiro”, ou seja, além da primeira conta que recebeu o valor desviado. Isso deve facilitar a recuperação de recursos transferidos em cadeia.
Outra mudança, prevista para o mês que vem, exige que todos os aplicativos bancários ofereçam uma funcionalidade específica para contestação de transações Pix, diretamente no menu do sistema — sem necessidade de atendimento humano.
O que dizem o BC e os bancos
Em nota, o Banco Central afirmou que a fraude no Pix segue sob controle proporcionalmente ao número total de transações. Os dados oficiais mostram:
- 2022: 7 fraudes a cada 100 mil transações
- 2023: 6 fraudes a cada 100 mil
- 2024: 8 fraudes a cada 100 mil
- 2025 (até agosto): 5 fraudes a cada 100 mil
O BC também destaca que medidas recentes sobre rejeição obrigatória de transações suspeitas — tanto no Pix quanto no Sistema Financeiro Nacional — vão ajudar a reduzir riscos.
Já para os bancos, o problema central é a agilidade do sistema, que, apesar de ser um dos grandes atrativos do Pix, também beneficia a atuação dos criminosos.
Ao O Globo, a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) disse apoiar as atualizações previstas no MED, mas defende ajustes nos prazos de liquidação para transações suspeitas como forma de evitar a pulverização imediata dos recursos.