O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira (29) um novo corte na taxa básica de juros do país, reduzindo-a em 0,25 ponto percentual, para o intervalo entre 3,75% e 4% ao ano — o menor patamar desde novembro de 2022. A decisão, que veio em linha com as expectativas do mercado, reflete a preocupação crescente da instituição com o desaquecimento do mercado de trabalho norte-americano.
Essa é a segunda redução consecutiva promovida pelo Fed. Na reunião anterior, em 17 de setembro, o banco já havia encerrado um período de nove meses sem cortes, ajustando a taxa para a faixa de 4% a 4,25% ao ano.
A decisão foi fortemente influenciada pela fragilidade recente no mercado de trabalho dos EUA. Apesar da falta de dados atualizados sobre a taxa de ocupação — consequência do shutdown que já dura 29 dias —, o banco central indicou que o ritmo de contratações vem diminuindo e o desemprego mostra leve aumento.
“As condições do mercado de trabalho parecem estar se desacelerando gradualmente”, afirmou o presidente do Fed, Jerome Powell.
A divulgação excepcional dos dados de inflação, feita mesmo durante a paralisação parcial do governo, mostrou índices abaixo do esperado, o que reforçou a decisão de priorizar o estímulo ao emprego em vez de manter o foco principal na inflação.
“O Comitê busca alcançar o máximo emprego e uma inflação de 2% no longo prazo (…)”, destacou o Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto), ao justificar a medida.
Durante coletiva, Jerome Powell reforçou que ainda há divergências internas sobre o futuro da política monetária. “Uma nova redução da taxa básica na reunião de dezembro não é uma conclusão inevitável (…)”, afirmou.
Segundo ele, a política monetária norte-americana não está em um curso pré-determinado, e as decisões futuras dependerão da evolução dos dados econômicos.
Após as declarações, os mercados acionários recuaram nos EUA, refletindo a incerteza dos investidores sobre novos cortes.
Redução dos juros nos EUA pode beneficiar Brasil com maior fluxo de capital estrangeiro
A redução dos juros norte-americanos tem reflexos diretos sobre o cenário econômico global.
Com juros mais baixos nos EUA:
- As Treasuries (títulos do governo americano) passam a render menos, diminuindo o apelo dos investimentos em dólar;
- O fluxo de capitais tende a migrar para países emergentes, como o Brasil, o que pode valorizar o real;
- Um dólar mais fraco reduz a pressão inflacionária no Brasil, o que pode abrir espaço para novas quedas na taxa Selic.
A decisão ocorre em meio a novas críticas do presidente Donald Trump ao comando do Fed. Durante um jantar com empresários em Tóquio, o republicano voltou a atacar Jerome Powell, a quem chamou de “incompetente”.
“Temos um chefe incompetente do Fed (…), mas ele sairá de lá em alguns meses e teremos alguém novo”, afirmou.
Trump também tem buscado ampliar sua influência sobre a diretoria do banco central, com indicações de aliados e tentativas de substituir membros críticos à sua política econômica.
O Fed também anunciou o fim do programa de aperto quantitativo (QT) a partir de dezembro, passando a reinvestir os recursos de títulos que vencerem, o que manterá a liquidez no sistema financeiro.
Segundo Powell, essa mudança deve aliviar o custo do crédito e oferecer suporte à economia — que já mostra sinais de desaceleração.