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Fantasma do comunismo no Halloween bolsonarista

por Xico Sa
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O espectro do comunismo ronda o quintal da Galinha Pintadinha.

Já vi a extrema direita brasileira enxergar o fantasma comunista no Saci, no Curupira, no boitatá, na Perna Cabeluda, mas nada supera o episódio que a jornalista Laura Kotscho, apresentadora do ICL Urgente, nos trouxe aqui esta semana:

O desenho animado ‘Galinha Pintadinha’, famoso nos lares brasileiros por animar crianças de até 6 anos, virou alvo de ataques da deputada federal Julia Zanatta (PL-SC). Em um vídeo publicado em suas redes sociais, a parlamentar bolsonarista acusa a animação infantil de “defender a transição de gênero”, “criticar o capitalismo” e “exaltar a União Soviética”.

O Saci, símbolo de nacionalismo contra o Halloween, vá lá — ainda usa touca vermelha. Comuna!

O Curupira idem, afinal de contas põe a canalha dos fazendeiros desmatadores para correr da floresta amazônica. Tremenda lenda canhota.

A Perna Cabeluda é puro comunismo pernambucano, assombração do Recife Velho — aparece até no filme “O Agente Secreto”, novo filme de Kleber Mendonça Filho.

Até aí, beleza, cabe tudo no campo do marxismo cultural do olavismo delirante.

A Galinha Pintadinha, poxa, aí a turma reaça exagerou, pegou pesado.

Nem no caso da mamadeira de piroca, hit da campanha eleitoral bolsonarista de 2018, a extrema direita foi tão longe.

Sim, é mais fácil o Brasil esquecer a lenda urbana do papa-figo, do velho do saco ou mesmo da loira do banheiro do que eliminar o perigo do comunismo… Vê comunismo na fofíssima penosa do desenho infantil, porém, supera todo repertório de bizarrices.

Não há um marco histórico do início das aparições do fantasma do comunismo no Brasil. Há, porém, momentos significativos.

Quando perdemos para a imbatível Hungria, na Copa do Mundo de 1954, adivinha quem foi o culpado? Pago uma vodka soviética para quem adivinhar. Quem arrisca? Óbvio que levamos de 4×2 da equipe de Puskas por causa de um “complô comunista” do qual fazia parte o árbitro inglês Arthur Ellis, vermelho, vermelhíssimo, segundo a imprensa brasileira.

A revista “O Cruzeiro” chegou a mandar uma equipe de reportagem a Londres para investigar as ligações ideológicas do juiz do jogo com a Cortina de Ferro. Acredite.

O folclore é vastíssimo. Em 1989, na primeira eleição depois da Ditadura, um fuzuê tomou conta do Nordeste. A equipe de marketing de Fernando Collor espalhou que os comunas do comitê de Lula iriam pintar a estátua do Padim Ciço, em Juazeiro do Norte, de tinta vermelha.

Dos pés ao chapéu do santo popular, incluindo a bengala clássica, naturalmente. Foi um rebuliço. O candidato do PT perdeu muito voto com o boato espalhado, de forma organizada, por taxistas e revendedoras de marcas famosas de cosméticos.

É o eterno retorno dos comunistas. Eles nunca chegaram ao comando aqui nos trópicos, mas o delírio sempre rende muitos votos aos picaretas. O que seria da extrema direita sem a renovação permanente desse tipo de marmota?

Quem será o próximo alvo dos parlamentares bolsonaristas? O Baby Shark? Pode sobrar também para a fofura do Labubu. Já reparou como o boneco tem um quê de semelhança com o Lula?

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