Casa Economia“Falar com a pessoa autista”: o que o DiversaMente quer mudar no debate sobre neurodiversidade

“Falar com a pessoa autista”: o que o DiversaMente quer mudar no debate sobre neurodiversidade

por Leila Cangussu
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Por Leila Cangussu

No dia 20 de outubro, São Paulo recebe o Fórum DiversaMente, um encontro gratuito que pretende discutir neurodiversidade e justiça cognitiva a partir da experiência de quem vive essa realidade.

“Não somos pessoas quebradas por sermos autistas. Temos funcionamentos cognitivos diversos e isso precisa ser visto como parte da diversidade humana”, resume Guilherme de Almeida, da Autistas Brasil, organização responsável pelo evento.

Da universidade para a sociedade

A Autistas Brasil nasceu em 2020 da união de coletivos em universidades. O movimento cresceu rápido e hoje reúne cerca de 4,5 mil associados. O foco está em educação, incidência política e autodefensoria.

A associação já influenciou políticas públicas e chama atenção para um problema: 98% dos estudos sobre autismo se concentram em crianças e adolescentes, enquanto as demandas dos adultos seguem invisíveis. “Quase todos os estudos sobre autismo focam em crianças, mas passamos a maior parte da vida como adultos. Isso gera um vazio de políticas públicas voltadas para nós”, explica Guilherme.

Silvano Furtado, advogado e também liderança da associação, lembra que a luta começou dentro da universidade. “Percebemos o sofrimento psíquico e físico causado pela falta de políticas. Era preciso ocupar espaços e criar uma entidade capaz de dialogar com o poder público.”

O peso da tutela

Silvano cita exemplos de como o olhar social ainda infantiliza pessoas autistas. “Muitas vezes, em vez de falarem com a gente, falam com o acompanhante. Parece detalhe, mas cria uma ideia de dependência que se espalha em todos os campos.”

Ele também chama atenção para a lógica inicial da lei de cotas, criada não para incluir pessoas com deficiência no trabalho, mas no sistema de seguridade social. “Foi um avanço ressignificar isso, mas mostra como o ponto de partida já era de exclusão.”

Dados ainda escassos

Outro desafio é a falta de informações confiáveis. Só em 2022 o IBGE trouxe um recorte específico sobre autismo, apontando 2,4 milhões de diagnósticos — menos da metade do estimado por organismos internacionais. Para Silvano, isso prova que ainda há subdiagnóstico e invisibilidade. “Sem dados, não existe política pública eficaz”, diz.

O fórum

O DiversaMente terá mesas de discussão em primeira pessoa, convidados internacionais e a presença de nomes como a ministra Cármen Lúcia, que falará sobre democracia e direitos. O encontro também marcará o lançamento da Federação Brasileira de Neurodiversidade.

Para os organizadores, o DiversaMente também busca ampliar o alcance da pauta. “Queremos dialogar com públicos que normalmente não chegam até nós. Não é sobre promover nomes, mas sobre promover a causa”, afirma Guilherme.

Serviço

  • Evento: Fórum DiversaMente
  • Data: 20 de outubro de 2025, das 8h às 20h
  • Local: Museu do Ipiranga, São Paulo (SP)
  • Entrada: gratuita, com vagas limitadas (200 lugares)
  • Inscrições: on-line, pelo Sympla ou pelo site do evento
  • Contato de imprensa: Myllena Amorim — myllena@alterconteudo.com.br

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