O aumento expressivo no preço do café nos Estados Unidos e a pressão das principais indústrias torrefadoras do país colocaram o tema das tarifas de importação no centro das discussões da Casa Branca. Após semanas de forte lobby empresarial, o presidente Donald Trump anunciou que pretende reduzir parte das tarifas sobre o café, durante entrevista à emissora Fox News. A declaração, no entanto, veio sem detalhes sobre quando ou como a medida será implementada.
O anúncio ocorre em um cenário de alta histórica no preço do café nos EUA, que registrou inflação de 21% em outubro — o maior avanço em 20 anos e quase nove vezes a média geral da inflação americana no período. O aumento tem impactado diretamente os consumidores e o setor de alimentos e bebidas, que depende do grão importado para manter seus custos sob controle.
Café brasileiro perde espaço e rivais avançam
Desde a criação da sobretaxa de 50% sobre o café brasileiro, em agosto, o país perdeu mais da metade de sua fatia no mercado americano. Concorrentes como Colômbia e Vietnã, que pagam apenas 10% de tarifa, têm ocupado o espaço deixado pelos produtores brasileiros nas misturas das grandes marcas.
Segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), as exportações para os EUA recuaram 46% em agosto, 52,8% em setembro e 54,4% em outubro, ampliando as perdas para o setor.
O diretor-geral do Cecafé, Marcos Matos, em entrevista ao UOL, avalia que a fala de Trump é um sinal positivo, mas insuficiente para resolver a crise.
“O que pedimos é que Brasil e Estados Unidos anunciem [formalmente] ao mercado que a negociação efetivamente começou, com o exemplo da isenção de grandes e importantes produtos, como o café. Isso é factível, e ambos os países querem”, afirmou.
Matos revelou que o apelo já foi levado às autoridades brasileiras, incluindo o vice-presidente Geraldo Alckmin e o chanceler Mauro Vieira.
Pressão sobre o governo americano cresce
O movimento das indústrias torrefadoras americanas tem se intensificado. As quatro maiores empresas do setor lideram o lobby junto ao Departamento de Comércio e ao USTR, órgão da Casa Branca responsável pela política comercial externa dos Estados Unidos.
Desde o anúncio do tarifaço, em 1º de agosto, os contratos futuros de café arábica na bolsa ICE Futures U.S. subiram 43,3%, passando de US$ 2,84 para US$ 4,07 por libra-peso (0,45 kg) — um reflexo direto da volatilidade e da incerteza que dominam o mercado desde então.