O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, anunciou nesta sexta-feira (17) que o país realizou uma intervenção nos mercados financeiros para comprar pesos argentinos, como parte da política de apoio do governo americano à administração de Javier Milei.
“Ontem o Tesouro comprou pesos no ‘swap de blue chips’ e no mercado à vista”, declarou Bessent em publicação no X (antigo Twitter).
O chamado “swap de blue chips” é uma operação financeira que permite a um investidor adquirir ativos estrangeiros — geralmente desvalorizados — e revendê-los no mercado local com lucro, aproveitando a diferença de preço entre os dois mercados.
“O Tesouro mantém uma comunicação estreita com a equipe econômica argentina”, acrescentou Bessent. Segundo ele, o governo também trabalha para “Tornar a Argentina Grande Novamente”, uma referência direta ao slogan de Donald Trump, “Make America Great Again”.
Mesmo após o anúncio, o peso argentino chegou a cair 3,4% no início das negociações desta sexta-feira. Posteriormente, a moeda se estabilizou, sendo cotada a 1.430 por dólar, enquanto a taxa paralela recuou mais de 1%, segundo a Bloomberg.
Apoio de Trump a Milei sofreu críticas internas nos EUA
O governo de Donald Trump tem reforçado sua aliança com a Argentina de Javier Milei. Nesta semana, Washington prometeu até US$ 40 bilhões (cerca de R$ 217 bilhões) em recursos públicos e privados para ajudar o país a enfrentar a instabilidade financeira.
Durante visita à Casa Branca, na última terça-feira (14), Milei agradeceu pessoalmente o apoio de Trump e buscou ampliar o diálogo político em meio à campanha para as eleições legislativas de 26 de outubro.
O presidente americano, no entanto, condicionou a continuidade do suporte ao desempenho do aliado nas urnas:
“Se ele perder, não seremos generosos com a Argentina. Nossos acordos estão sujeitos a quem vencer a eleição. Porque com um socialista, fazer investimentos é muito diferente”, afirmou Trump.
A declaração provocou forte reação no mercado argentino. O ministro da Economia, Luis Caputo, tentou acalmar os investidores ao afirmar que as políticas do governo Milei não serão alteradas independentemente do resultado eleitoral.
Caputo também revelou que o país está avaliando novas opções de financiamento, ainda mantidas em sigilo, e que empresas americanas teriam se comprometido informalmente a investir bilhões de dólares na economia argentina.
A decisão de Washington de socorrer a Argentina é considerada um movimento incomum, já que o governo americano vinha evitando grandes intervenções externas. A Casa Branca defendeu o pacote como parte de uma estratégia para fortalecer um aliado estratégico na América do Sul.
Mesmo assim, críticas internas surgiram nos Estados Unidos. Parlamentares democratas acusaram Trump de priorizar resgates internacionais enquanto o país enfrenta paralisações administrativas causadas pelo “shutdown”.
Agricultores americanos também demonstraram insatisfação, lembrando que a China redirecionou suas compras de soja dos EUA para a Argentina neste ano — um movimento que prejudicou as exportações agrícolas americanas.
Apoio internacional e cenário político argentino
Além do auxílio norte-americano, o Banco Mundial anunciou no mês passado a aceleração de um plano de US$ 12 bilhões para a Argentina, com até US$ 4 bilhões a serem liberados nos próximos meses para financiar reformas e projetos de crescimento de longo prazo.
No cenário político interno, Milei enfrenta pressões crescentes. As eleições legislativas na província de Buenos Aires, em setembro, resultaram em vitória ampla dos peronistas, sinalizando perda de apoio ao governo e aumento das dificuldades para aprovar medidas econômicas no Congresso.
A situação se agravou após denúncias de corrupção envolvendo Karina Milei, irmã e assessora próxima do presidente. No dia seguinte ao escândalo, o índice S&P Merval caiu 13,23%, os títulos de longo prazo recuaram quase 8%, e o peso desvalorizou 4,25%, cotado a 1.423 por dólar.
A volatilidade dos mercados só diminuiu após o anúncio de Scott Bessent sobre a intervenção americana, embora persistam dúvidas quanto à efetiva implementação dos pacotes de ajuda prometidos.