Índice
Por Schirlei Alves
“Eu achei que eu fosse morrer naquele momento, quando tudo desabou em cima de mim”, contou Marileia Chagas, moradora de Rio Bonito do Iguaçu, uma das cidades mais atingidas pelos tornados que devastaram o Paraná na última sexta-feira (8).
Ela estava em casa com a filha de 14 anos, o pai de 76 e a mãe de 66 quando o vento começou a soprar forte, anunciando que um temporal se aproximava.
Embora houvesse alertas de ventos fortes, ninguém esperava que um tornado daquelas proporções atingisse o município. Como disse Marileia, “ninguém imagina que vai ser atingido dessa forma”.
Em poucos segundos, a força do vento a derrubou no chão, arrancou a cobertura da casa e fez desabar sobre ela a estrutura da edícula nos fundos do terreno. Por sorte, Marileia sofreu apenas algumas escoriações e conseguiu sair ilesa.
“Eu tinha umas roupas pra fora, na edícula, e resolvi sair pra recolher, né? Quando comecei a juntar as roupas, alguma coisa bateu nas minhas costas, assim, como se fosse um pedaço de madeira. Quando olhei pra trás pra ver o que era, o vento já me derrubou de lado”, contou Marileia.
Ela tentou se levantar e se abrigar sob uma mesa.
“Quando ele [o vento] me derrubou de lado, eu tentei levantar. Levantei e fui para debaixo de uma mesa que a gente tinha ali na edícula. Quando eu cheguei embaixo da mesa, não deu um segundo, o vento já bateu mais uma vez e acabou levando a mesa embora.”
Marileia, então, foi derrubada novamente pelo vento.
“Nisso o vento me derrubou de volta e me jogou contra a churrasqueira. Eu fiquei ali alguns segundos e tentei levantar, quando o vento me derrubou outra vez e me jogou para um canto onde eu tinha uma geladeira e uma máquina de lavar.”
Um banco foi arremessado pela força do vento sobre Marileia e acabou a protegendo do desabamento que veio em seguida.
“Veio um banco voando e caiu por cima de mim. Então, eu entrei embaixo daquele banco, protegi a minha cabeça com as mãos, coloquei a cabeça no meio das pernas e fiquei por ali. Nesse momento, quando caiu o banco, já caiu a estrutura de metal, como se fosse uma viga. Se não fosse o banco, teria caído em cima de mim. E, aí, a edícula caiu inteirinha em cima de onde eu estava.”
Marileia teve ferimentos nos braços, nas costas e na cabeça.
“Foi horrível, o vento durou mais ou menos, 30 a 40 segundos, de puro vento, pura destruição. A gente só pensava que ia morrer. Eu achei que fosse morrer quando tudo desabou em cima de mim. Mas, graças a Deus, passou, e nós continuamos bem e com vida”, contou a moradora.
“Foi questão de segundos”
O município com cerca de 14 mil habitantes foi um dos mais afetados pelo fenômeno que atingiu o estado. Segundo o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), ao menos seis tornados se formaram quase simultaneamente em diferentes regiões do Paraná e também em Santa Catarina — algo raro no Brasil.
Os ventos chegaram a 330 km/h, causando estragos em cerca de 90% da área urbana. O tornado foi classificado como sendo de categoria F3 na escala Fujita. Ao menos sete mortes foram confirmadas até esta terça-feira (11).
Meteorologistas disseram que o fenômeno surpreendeu até especialistas, pela força e simultaneidade dos tornados, o que o torna um dos eventos mais intensos das últimas décadas no estado.
Em vídeo, moradora mostra os estragos em sua casa
Destruição e solidariedade
Quando falamos com Marileia, na noite desta terça-feira (11), ela havia acabado de voltar de um dos pontos de doação montados na cidade, onde estão sendo distribuídos alguns materiais de construção e cestas básicas.
“Estourou todos os vidros, molhou os móveis, o guarda-roupa da minha filha veio parar na cozinha. Então, a gente está enfrentando o prejuízo material mesmo, correndo atrás para conseguir refazer tudo o mais rápido possível”, contou.
Pontos de arrecadação e distribuição estão foram criados pela cidade. Produtos de limpeza, água e protetor solar são itens bem-vindos.
“Graças a Deus, tem muitas pessoas boas ajudando. A todo momento têm pessoas passando aqui pela rua, oferecendo água, comida, roupa, tudo o que a gente precisa nesse momento, porque a gente acabou perdendo muita coisa”, agradeceu.
Equipes de resgate continuam atendendo desabrigados, e voluntários de cidades próximas levam doações. O governado do Paraná decretou, ainda no sábado (8), Estado de Calamidade Pública em áreas mais afetadas. Mais de 1,3 mil pessoas já se cadastraram para receber algum tipo de recurso.
Cidades da região, como Cascavel, também estão dando apoio. Como há previsão de chuva para o meio da semana, a 15ª Brigada do Exército disponibilizou dez barracas para montar em Rio Bonito de Iguaçu.
Escola foi atingida após saída das crianças
O ginásio de um dos principais colégios estaduais de Rio Bonito do Iguaçu veio abaixo. Parte da estrutura que ficou completamente retorcida. Próximo dali, o Colégio Estadual também ficou completamente destruído.
Segundo o morador e fotógrafo Evandro Nicolao, as crianças haviam saído da escola por volta das 17h30. Cerca de uma hora depois, o tornado passou e devastou o prédio.
Uma força-tarefa para reconstruir a escola envolve o governo do município e do Estado do Paraná. A promessa é de que até fevereiro de 2026 ele volte a funcionar. A obra já começa na segunda-feira.
A Reconstrução do ginásio vem em um segundo momento para dar condição de trabalho aos professores e aos estudantes.
*Com informações da Agência Pública