Entre as consequências mais imediatas do tarifaço implementado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em agosto, destacam-se o aumento nos preços da carne bovina e do café para os consumidores norte-americanos. Enquanto isso, especialistas ouvidos por reportagem do jornal O Globo apontam que, apesar do conflito, o impacto das tarifas sobre o Brasil tem sido menor que o esperado, o que pode favorecer uma abordagem pragmática nas negociações.
As declarações recentes da Casa Branca sobre café e frutas indicam uma abertura para negociações comerciais entre os dois países.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reuniu-se na quarta-feira (12) com o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, em Niágara, no Canadá, à margem da reunião do G7, grupo dos países mais industrializados do mundo. Segundo o Itamaraty, os dois conversaram sobre o andamento das negociações bilaterais envolvendo tarifas comerciais. A conversa deve continuar nesta quinta-feira (13), em Washington (EUA).
“As economias são perfeitamente complementares. Não precisavam passar por uma crise como esta, que foi engendrada mais por razões políticas do que comerciais”, disse ao O Globo o embaixador José Alfredo Graça Lima, vice-presidente do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) e ex-cônsul-geral em Nova York e Los Angeles.
Impacto do tarifaço preocupa consumidores norte-americanos
Mesmo com a insistência de Trump em defender a sobretaxa, as primeiras consequências negativas começam a aparecer nos EUA. Em setembro, o preço do café ao consumidor apresentou queda de 0,1%, mas os aumentos acumulados em julho (2,3%) e agosto (3,6%) já refletiam os impactos do tarifaço, segundo o CPI, indicador de preços do Bureau of Labor Statistics (BLS). A carne bovina, por sua vez, subiu 1,2% em setembro, após aumentos de 1,5% e 2,7% nos meses anteriores.
O mercado de café evidencia a dependência mútua entre as duas economias: os EUA são os maiores compradores do mundo, enquanto o Brasil é o principal produtor e exportador. Antes da sobretaxa de 40% sobre o café brasileiro, implementada em agosto, o país atendia cerca de um terço da demanda americana.
O tarifamento do café interrompeu o fluxo natural do maior produtor da commodity para o maior comprador, provocando mudanças no mercado global e redução das exportações brasileiras para os EUA entre agosto e outubro.
Diversificação de mercados
Apesar da retração nas vendas para os EUA, o Brasil tem conseguido encontrar novos mercados. Levantamentos indicam que, de agosto a outubro de 2025, as exportações de produtos atingidos pelo tarifaço caíram 29% para os EUA, mas cresceram 20% para o resto do mundo, incluindo a China, que registrou aumento de 32,8% no volume exportado.
Para economistas, os números confirmam a percepção diplomática: o impacto do tarifaço sobre a economia brasileira é relativamente limitado. “Alguns setores muito dependentes do mercado americano, como mel e madeira, sentirão mais o efeito, mas matérias-primas e insumos básicos tendem a encontrar outros compradores”, pontuou Lia Valls, pesquisadora do FGV Ibre (Institudo Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
Segundo ela, essa margem de manobra deixa o Brasil em melhor posição para negociar com os EUA e buscar a redução das sobretaxas sem pressionar a economia doméstica.