Por Cleber Lourenço
Uma empresa de transmissão de energia denunciou ao governo federal ter recebido ameaças diretas de um homem que se apresentou como integrante do Comando Vermelho, exigindo a suspensão imediata das atividades na subestação de Marituba, na Região Metropolitana de Belém, onde acontecerá a COP30.
O episódio, classificado como um risco concreto à segurança de uma infraestrutura estratégica, levou o Ministério de Minas e Energia (MME) a acionar, em caráter emergencial, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e o governo do Pará. O objetivo foi coordenar ações conjuntas para evitar qualquer interrupção no fornecimento de energia, sobretudo diante da aproximação da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para ocorrer em Belém em 2025.
O documento enviado pela Belém Transmissora de Energia S.A., datado de 30 de outubro, detalha que o responsável pelas ameaças determinou duas condições: a suspensão imediata das obras e a interrupção diária das atividades a partir das 15h. Segundo o relato, os funcionários teriam sido orientados a deixar o local sob risco de represálias. A empresa afirmou que as comunicações ocorreram de forma direta e que os autores se identificaram como integrantes da facção criminosa Comando Vermelho, o que motivou o envio urgente da correspondência ao MME.
O ofício, classificado como “Comunicado Urgente”, destaca que a subestação Marituba integra o Sistema Interligado Nacional (SIN) e desempenha função essencial na estabilidade elétrica da Região Metropolitana de Belém. “O episódio compromete a infraestrutura vital para o evento internacional e pode colocar em risco a recomposição de carga elétrica em caso de falha”, afirma o texto. A empresa acrescenta ainda que, após as ameaças, um consórcio que atua na mesma área – identificado como Consórcio Liberdade – também recebeu comunicações semelhantes e decidiu suspender suas atividades preventivamente, o que reforçou o alerta de segurança.
O MME confirmou o recebimento da carta e, já no dia seguinte, em 31 de outubro, expediu três ofícios endereçados ao MJSP, ao GSI e ao governo estadual. O conteúdo dos ofícios indica preocupação com o potencial de sabotagem e pede atuação imediata para “garantir a integridade de trabalhadores e a continuidade operacional das instalações do sistema elétrico”. O documento direcionado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública afirma:
“Solicitamos o apoio institucional deste ministério para a adoção de medidas de segurança e prevenção de ações criminosas na Subestação Marituba (PA), cuja relevância se acentua em razão da proximidade da COP30”.
Já no ofício encaminhado ao GSI, o ministério enfatiza que a subestação está inserida no “Sistema Elétrico Crítico” do país e pede o acompanhamento do Grupo de Trabalho de Segurança de Infraestruturas Críticas (GTSIC), estrutura coordenada pela Presidência da República. Ao governo do Pará, o MME solicita o reforço do policiamento, além da integração imediata com os órgãos federais para garantir vigilância permanente na região.
Em nota oficial enviada ao ICL Notícias, o Ministério de Minas e Energia confirmou as providências tomadas e reforçou que a situação está sob controle:
“O Ministério de Minas e Energia (MME) vem a público informar que as instâncias de segurança do governo do Brasil e do estado do Pará foram acionadas imediatamente após o conhecimento sobre as ameaças praticadas contra funcionários da Subestação Marituba, no Pará. Foram enviados ofícios ao Ministério de Justiça e Segurança Pública (MJSP), ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR) e ao Governo do estado do Pará, pedindo que tomem as providências necessárias para proteção das pessoas e das infraestruturas ameaçadas, e a região já está com a segurança reforçada.”
O MME também destacou, na mesma nota, que participa “ativamente do planejamento da rede elétrica para a COP30, coordenando as ações junto ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), à Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e aos agentes locais para garantir o suprimento eletroenergético durante o evento”. Segundo o ministério, todas as medidas preventivas e de contingência necessárias foram adotadas para assegurar “excelência e segurança energética” durante a conferência.
“O MME reitera que o sistema elétrico está seguro, com funcionamento garantido em todas as suas etapas, desde a geração até a distribuição, com foco especial nas instalações da Região Norte que atenderão à COP30”, completa a pasta.
Qualquer interferência na subestação Marituba poderia afetar a recomposição de carga em Belém e em municípios vizinhos, o que impactaria diretamente a logística da conferência. O sistema elétrico local opera em sincronia com outras subestações que sustentam o abastecimento da capital e de áreas que sediarão eventos da COP30.
Abin já havia produzido alertas sobre riscos à COP30
De acordo com membros da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ouvidos pela reportagem, a agência elaborou ao longo de 2025 uma série de relatórios com possíveis ameaças à realização da COP30, incluindo ações de facções criminosas contra estruturas estratégicas ligadas ao evento. As análises indicavam vulnerabilidades em subestações, redes de transmissão, portos e rodovias que servirão de apoio logístico à conferência.
Os interlocutores afirmam, sob reserva, que a COP30 é considerada prioridade máxima dentro da agenda da agência neste ano e que os alertas foram compartilhados com o GSI e o MME antes do incidente em Marituba. Segundo uma das fontes, os relatórios apontavam riscos à segurança de trabalhadores e de infraestrutura crítica caso não fossem ampliados os protocolos de proteção.