Casa EconomiaElon Musk trilionário? Para comentaristas do ICL Notícias, isso é ‘obsceno’

Elon Musk trilionário? Para comentaristas do ICL Notícias, isso é ‘obsceno’

por Adriana Cardoso
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Os acionistas da Tesla aprovaram na quinta-feira (6) um pacote de remuneração de US$ 1 trilhão (R$ 5,35 trilhões) para o CEO Elon Musk — o maior já concedido a um executivo na história corporativa. O acordo, válido por dez anos, encerra semanas de intensa campanha conduzida por Musk, pelo conselho de administração e por uma base fervorosa de investidores de varejo, que transformaram a votação em um plebiscito sobre o futuro — e o poder — do bilionário.

O jornalista Jamil Chade e o cientista político Leonardo Trevisan, ambos comentaristas do ICL Notícias, analisaram a notícia na edição desta sexta-feira do programa. Para eles, a decisão da Tesla é no mínimo “obscena”.

“Trata-se de uma obscenidade absoluta. O que poderia ser feito com US$ 1 trilhão em termos sociais? Primeiro, significa que, se ele fosse um país, seria um dos 30 maiores do mundo. Cento e setenta países têm PIB [Produto Interno Bruto] inferior a que uma pessoa ganha… Acabar com a fome, em 2021 a ONU [Organização das Nações Unidas] fez previsão precisa de US$ 400 bilhões para isso, ou seja, menos da metade do que Elon Musk vai ganhar. Outro dado: combate ao desmatamento. Ontem (5ª feira, 6/11] vimos o presidente Lula comemorando que os países ricos estão dando US$ 5 bilhões para evitar o desmatamento. Isso é uma migalha perto do US$ 1 trilhão do Elon Musk”, disse Chade.

“Claro que é tentador demonizar Elon Musk, mas não é o caso. O que precisamos entender é que existe um desequilíbrio profundo no mundo, em uma estrutura que não distribuiu. Elon Musk é expressão de um sistema muito desigual, enquanto isso temos fome, pobreza e desmatamento, que poderiam ser resolvidos até 2030, ou seja, na nossa geração”, completou.

Chade (esq.) e Trevisan comentam o US$ 1 tri a Musk

Trevisan concordou com a análise de Chade, destacando a dimensão do valor envolvido: “Eu vi essa notícia ontem pequenininha, falei ‘meu santo Deus do céu, um trilhão’. A Nvidia [empresa de chips para IA], em pouco tempo, passou a valer US$ 5 trilhões… é quase três PIBs do Brasil, mais do que o PIB da Alemanha. Jamil tem toda a razão e falou com a expressão que deve ter mesmo, isso é obsceno”, criticou.

Para o professor da ESPM, a aprovação do US$ 1 trilhão a Musk “traduz perfeitamente o que aconteceu com o mundo a partir de 1990”. “Fizemos uma globalização que pretendia dividir renda, tirou 1 a 2 bilhões de pessoas da fome, tirou 400 a 500 milhões de chineses da fome absoluta; aqui no Brasil foram uns 10% a menos – 40, 50 milhões. Não sei quem se irritou, não sei se foi pela eleição do Obama [Barack Obama] — eu acredito que sim”, disse Trevisan.

“A partir de 2013, tivemos uma virada no mundo, o pensamento mais conservador se organizou contra a globalização e é esse o resultado. E se organizou exatamente para se esconder. A Nvidia vale US$ 5 trilhões”, disse Trevisan, enfatizando que o mundo “mudou de dono”.

O plano da Tesla para Elon Musk

Com o novo plano, Musk, já considerado o homem mais rico do mundo, poderá se tornar o primeiro “trilionário”, ampliando sua participação na montadora para cerca de 25% das ações.

Para isso, precisará cumprir metas ousadas, como elevar drasticamente o valor de mercado da Tesla, revitalizar o negócio automotivo e transformar promessas de inteligência artificial e robôs-táxis em realidades lucrativas.

A proposta foi aprovada por cerca de 75% dos acionistas, reunidos em assembleia em Austin, Texas — um resultado que reflete tanto a influência de Musk sobre o público investidor quanto o fascínio persistente por sua visão futurista.

Elon Musk: entre ambição e dependência

A votação também encerra um período de tensão dentro da Tesla. Musk havia insinuado que poderia se afastar da liderança ou reduzir sua dedicação à montadora caso não obtivesse um grau maior de controle.

O resultado da assembleia, portanto, funciona como um voto de confiança — e de dependência: os investidores parecem dispostos a conceder ao executivo o poder e o capital que ele diz precisar para “salvar a civilização”.

O desafio agora é transformar o carisma em desempenho. A Tesla enfrenta concorrência crescente, margens de lucro em queda e metas quase quiméricas em seus projetos de veículos autônomos e robótica.

Apesar do cenário, as ações da empresa subiram 14% em 2025, ligeiramente abaixo dos 16% do índice S&P 500 — um sinal de que o mercado, por enquanto, ainda acredita em Elon Musk.

Assista à análise completa no vídeo abaixo:

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