A dívida bruta do setor público brasileiro manteve-se estável em 77,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em agosto, atingindo o montante de R$ 9,6 trilhões, segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta terça-feira (30). Apesar da estabilidade em relação a julho, o índice acumula alta de 1 ponto percentual no ano, em um contexto de juros elevados e desafios fiscais.
Esse indicador — que inclui as obrigações do governo federal, INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), estados e municípios — é um dos principais termômetros acompanhados por investidores para avaliar a sustentabilidade das contas públicas. A relação da dívida bruta com o PIB serve justamente para dimensionar se o endividamento do país está em trajetória compatível com sua capacidade de geração de riqueza.
Em agosto, a dívida bruta foi pressionada principalmente pelo custo com juros, que adicionou 0,8 ponto percentual ao total. Em contrapartida, o crescimento do PIB — que entra na conta como fator redutor — teve impacto de -0,5 ponto percentual. As emissões líquidas de dívida e a valorização cambial contribuíram com alívio adicional de -0,2 e -0,1 ponto, respectivamente, ajudando a neutralizar parte da alta.
O cenário, no entanto, segue pressionado pela manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano, decisão reafirmada pelo Copom (Comitê de Política Monetária) neste mês. O Banco Central estima que cada ponto percentual de aumento na Selic, mantido por 12 meses, adiciona R$ 54,4 bilhões à dívida bruta — o equivalente a 0,44 ponto percentual do PIB.
Dívida bruta fica estável, mas dívida líquida sobe
A dívida líquida do setor público, que desconta os ativos do governo, apresentou elevação de 0,6 ponto percentual no mês, alcançando 64,2% do PIB, o equivalente a R$ 8 trilhões. A piora ocorre em um contexto de contas públicas ainda fragilizadas.
Em agosto, o setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 17,3 bilhões, revertendo a tendência de melhora observada em meses anteriores. No mesmo mês de 2024, o déficit havia sido maior: R$ 21,4 bilhões. O resultado negativo inclui os desempenhos deficitários do governo central (R$ 15,9 bilhões), estados e municípios (R$ 1,3 bilhão), e estatais (R$ 6 milhões).
No acumulado de 12 meses, o país ainda registra superávit primário de R$ 23,1 bilhões, equivalente a 0,19% do PIB. Contudo, a meta fiscal do governo de déficit zero até o fim de 2025 continua ameaçada, mesmo com a margem de tolerância de até R$ 31 bilhões em resultado negativo prevista pelo arcabouço fiscal.