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Por Leila Cangussu — A defesa da democracia também passa pela imprensa. No Despertar 2025, a mesa sobre jornalismo reuniu a apresentadora Daniela Lima e o comunicador Serginho Groisman. O debate percorreu os desafios recentes da profissão, da pandemia às novas formas de censura, e levantou reflexões sobre o futuro da comunicação em um mundo marcado pela polarização e pela tecnologia.
Daniela Lima: a imprensa como linha de frente
Ao iniciar sua participação, Daniela lembrou o papel do jornalismo durante a pandemia de Covid-19. Para ela, aquele período mostrou de forma brutal o quanto informação pode significar a diferença entre a vida e a morte. Foi o jornalismo que checou, contextualizou e trouxe dados para que as pessoas pudessem tomar decisões em meio ao caos.
A jornalista destacou que ódio e indignação se transformaram em mercadoria nas redes sociais, o que aumenta a responsabilidade de quem apura e comunica fatos. “O jornalismo não é para agradar, é para mostrar a realidade. Nosso trabalho é incomodar, porque só assim a sociedade consegue se ajustar”, afirmou.
Daniela também relatou episódios de perseguição pessoal, como a exposição de dados da sua família na dark web, e reconheceu que há momentos em que a violência dos ataques quase paralisa. “Dá vontade de não sair da cama, mas a gente pensa em vocês. Defender a democracia é obrigação do jornalismo”, declarou, recebendo aplausos do público.
Daniela Lima durante o Despertar 2025. Foto: ICL
Autoritarismo e liberdade de imprensa
Em tom de alerta, Daniela afirmou que o autoritarismo ataca sempre no mesmo lugar: a imprensa. Para ilustrar, citou os diferentes contextos em que a liberdade jornalística foi sufocada, da Rússia à Venezuela, passando por pressões recentes até mesmo nos Estados Unidos. “Quando você desacredita a imprensa, perde a capacidade de cobrar coerência do poder. E isso abre espaço para regimes de exceção”, disse.
Ela ressaltou que a missão do jornalismo é oferecer informação que permita ao cidadão formar opinião própria. “Não cabe a nós decidir por vocês, mas levar os fatos para que cada um compreenda e tire suas conclusões.”
Serginho Groisman: uma vida entre microfones e câmeras
Na sequência, Serginho Groisman contou sua trajetória pessoal e profissional, marcada por desvios até encontrar o jornalismo. Filho de imigrantes judeus, estudou direito na PUC-SP e história na USP, mas foi no jornalismo, na FAAP, que encontrou seu caminho definitivo.
Ele relembrou passagens marcantes, como o início de carreira na TV Cultura, o convite de Sílvio Santos para o SBT e a criação do Programa Livre, que marcou uma geração de jovens telespectadores nos anos 1990. Um dos episódios mais fortes lembrados foi a transmissão ao vivo do programa direto do Carandiru, ao lado do médico Drauzio Varella, meses antes do massacre de 1992.
Serginho também destacou sua escolha de abrir espaço na televisão para temas pouco explorados pela grande mídia, como torcidas organizadas, pichadores e movimentos estudantis. “Sempre acreditei que jornalismo e televisão têm que dar voz a quem não tem. Isso nem sempre agrada, mas é o que dá sentido ao trabalho”, afirmou.
O futuro do jornalismo
O painel se encerrou com reflexões sobre os desafios da imprensa no futuro. Daniela Lima alertou para os riscos da desinformação em larga escala, agora potencializada por ferramentas de inteligência artificial e deepfakes. “Se já é difícil combater mentiras fabricadas em massa, imaginem quando elas vierem acompanhadas de vídeos e áudios falsos com aparência de verdade. O trabalho jornalístico será ainda mais essencial”, avaliou.
Serginho, por sua vez, observou que experiências ousadas como as que marcaram o início de sua carreira seriam hoje quase impossíveis diante de pressões políticas e corporativas. Ainda assim, defendeu que a inovação e a pluralidade precisam continuar sendo parte da missão da imprensa.
Serginho Groisman durante o Despertar 2025. Foto: ICL
Jornalismo como condição democrática
Entre aplausos, Daniela e Serginho reforçaram que o jornalismo livre, crítico e corajoso é condição indispensável para a democracia. “Investir no jornalismo é investir na democracia e na qualidade de vida de todos nós”, resumiu Daniela.
O debate terminou com a certeza de que, em tempos de desinformação e ataques autoritários, o jornalismo precisa continuar sendo movimento, resistência e compromisso público.
Programação segue à tarde
O painel encerrou a parte da manhã do Despertar 2025. O evento segue nesta tarde com uma programação intensa, que inclui Jessé Souza, Frei Betto, Aleida Guevara, João Cezar de Castro Rocha, Sara Zara, Assucena, Márcia Tiburi, Juliana Baroni, Falcão, o ministro Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Ian Neves, Laura Sabino e André Frateschi, que se apresenta acompanhado de Edgard Scandurra e Nasi.
A cobertura completa continua no portal ICL Notícias e nas redes sociais do ICL, com atualizações em tempo real.