As regiões metropolitanas do Brasil registraram, em 2024, os menores índices de desigualdade de renda e pobreza desde o início da série histórica iniciada em 2012. Os dados são da 16ª edição do boletim Desigualdade nas Metrópoles, produzido pelo Observatório das Metrópoles em parceria com o PUCRS Data Social e a RedODSAL (clique aqui para ler a íntegra do boletim).
Apesar dos avanços, especialistas alertam que a distribuição de renda continua altamente concentrada nas mãos de poucos. Em 2024, os 10% mais ricos das metrópoles ainda ganhavam, em média, 15,5 vezes mais do que os 40% mais pobres — R$ 10,4 mil contra R$ 670 per capita. Embora seja a menor diferença da série, o quadro ainda é considerado “muito ruim” pelo pesquisador André Salata, coordenador do PUCRS Data Social.
O boletim utiliza o índice de Gini como principal indicador de desigualdade. Em 2024, o Gini das regiões metropolitanas caiu de 0,550 para 0,534 — uma redução de 2,8% em relação ao ano anterior e de 5,5% em relação ao pico da pandemia, em 2021 (0,565).
Aumento da renda pelo trabalho ajuda a reduzir a pobreza e a desigualdade
A principal explicação para a queda na desigualdade foi o aumento da renda do trabalho entre as camadas mais pobres da população. O crescimento se deu em meio à recuperação do emprego, ao reajuste real do salário mínimo e, em menor grau, ao impacto dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.
“O principal fator, de longe, é a renda do trabalho. É um crescimento mais forte para quem está na base da pirâmide”, afirmou Salata.
Outro destaque do boletim foi a redução da taxa de pobreza nas metrópoles, que caiu de 23,4% em 2023 para 19,4% em 2024 — a primeira vez abaixo da marca de 20% na série histórica. Em termos absolutos, isso representa 16,5 milhões de pessoas em situação de pobreza, o menor número desde 2012. Desde o pico registrado em 2021 (26 milhões), cerca de 9,5 milhões de pessoas saíram dessa condição.
A taxa de extrema pobreza também recuou, passando de 3,6% para 3,3%. O número de pessoas vivendo nessa situação foi estimado em 2,9 milhões — praticamente metade do registrado no auge da pandemia, quando chegou a 5,7 milhões.
As linhas de pobreza e extrema pobreza utilizadas no estudo seguem critérios do Banco Mundial. Em valores atualizados para 2024, são considerados pobres aqueles com renda per capita mensal inferior a R$ 692,54 e extremamente pobres os que recebem menos de R$ 217,37.
Desigualdade nas metrópoles ainda é superior à média nacional
Embora os indicadores apontem melhora, a desigualdade nas metrópoles brasileiras segue mais acentuada do que no país como um todo. O Gini nacional, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), chegou a 0,506 em 2024 — ainda elevado, mas inferior ao índice médio das grandes regiões urbanas.
“A desigualdade nas metrópoles é ainda maior do que no Brasil como um todo. Em países mais igualitários, como os nórdicos, o Gini gira em torno de 0,25. Mesmo nos Estados Unidos, fica na casa de 0,40”, comparou Salata.
O estudo se baseia em microdados da Pnad Contínua do IBGE e abrange 22 regiões metropolitanas brasileiras. Os resultados confirmam que, embora os indicadores estejam em trajetória de melhora, o desafio de tornar os grandes centros urbanos mais igualitários ainda é significativo.