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O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na quinta-feira (30) uma redução nas tarifas de importação sobre produtos chineses, que caíram de 57% para 47%, após reunião entre o republicano e o líder chinês Xi Jinping, realizada na Coreia do Sul. A medida coloca o gigante asiático em situação mais favorável do que o Brasil, cujos produtos continuam sujeitos a alíquotas de até 50% para entrada no mercado americano, embora existam exceções.
A redução de tarifas aos chineses se insere em um acordo que prevê também a retomada das compras de soja americana, o fluxo de exportação de terras raras e cooperação no combate ao comércio ilícito de fentanil, droga sintética que contribui significativamente para a crise de opioides nos EUA.
A reunião entre Trump e Xi, a primeira desde que o ex-presidente retornou ao poder em janeiro, reforçou a posição chinesa sobre insumos estratégicos. A China conseguiu suspender, por um ano, os controles de exportação sobre terras raras, essenciais para tecnologias avançadas como smartphones e carros elétricos, e obteve a suspensão temporária de tarifas portuárias americanas sobre embarcações chinesas.
Trump busca vitórias comerciais simbólicas
Especialistas observam que, enquanto Trump buscava vitórias comerciais simbólicas — como prometer a compra de 25 milhões de toneladas de soja ao ano pelos próximos três anos — a China manteve grande parte do controle sobre recursos estratégicos e ampliou sua influência na negociação.
“Os chineses ficaram cada vez mais ousados em exercer influência e estão satisfeitos em embolsar todas as concessões dos EUA”, disse Julian Gewirtz, ex-funcionário da Casa Branca e do Departamento de Estado, ao jornal The New York Times.
O acordo, que estende por cerca de um ano a trégua comercial iniciada no começo do ano, evita a implementação de tarifas de 100% sobre produtos chineses, que Trump havia ameaçado.
Ao mesmo tempo, o encontro permitiu que Trump apresentasse resultados tangíveis ao eleitorado norte-americano, com destaque para agricultores e empresas, sem abrir mão do status quo estratégico chinês.
Brasil sob pressão
Enquanto a China avançou, o Brasil segue com tarifas elevadas sobre suas exportações. O governo Trump mantém alíquotas de até 50%, e o país foi penalizado em parte por questões políticas: Trump criticou o “perseguimento” ao ex-presidente Jair Bolsonaro, julgado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de Estado.
Apesar de reuniões recentes entre Lula e Trump, incluindo um encontro na Malásia no último domingo (26), as negociações comerciais entre Brasil e EUA ainda não definiram datas para novos encontros, segundo o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin.
Representantes comerciais brasileiros iniciaram discussões focadas nos setores mais afetados, mas sem avanço concreto até o momento.
“O que importa em uma negociação é olhar para o futuro. A gente não quer confusão, quer resultado”, afirmou Lula após o encontro, enquanto Trump ressaltou que o diálogo “foi muito bom”, mas não garante acordo imediato.
Implicações para o comércio global
O caso ilustra a complexidade das disputas comerciais globais, nas quais decisões políticas e estratégicas se entrelaçam. A China demonstrou habilidade em transformar sua posição dominante em vantagem negociadora, enquanto o Brasil e outros países, como Índia, permanecem sujeitos a tarifas elevadas impostas pelos EUA.
A trégua firmada com a China, embora temporária, reforça a importância das terras-raras e outros recursos estratégicos na geopolítica econômica, e evidencia que, mesmo com gestos diplomáticos de boa vontade, países como o Brasil podem ficar em posição desfavorável na competição por acesso a mercados internacionais.